Revista da Exposição Anthropologica Brazileira/M. M. F. Poe. 1

O PALACIO DA MÃI D’AGUA
 
(LENDA DO AMAZONAS)
 
 

Existe n’uma collina,
Pelas margens do Portel,
Um encanto que sorprende
O viajor no batel.
Se ao largo singra uma igára,
Se perto voga a canôa,
O remador se benzendo
Dobra o joelho na proa.

Fundo inysterio!.. Quem póde
Sondar um mysterio... Quem?
Ao alto nem de pensal-o
Chegar inda ousou ninguem.
A cachoeira assombrada,
Que acima rolando medra,
Batendo o corpo no rio
Se agarra de pedra em pedra !

Ha um prestigio! De noite,
Na correnteza fremente,
Da montanha se desdobra
Crespa estrella reflectente.
E’ horrendo esse lampejo
Da phosphorica luzernal
Parece o rio um fantasma
Que errando accende a lanterna.

Desse pico incendiado
Ao fundo da bruma clara,
Não vê-se a chamma que alenta
O facho que o rio aclara.
As aves piam nos ares,
Sobre a vaga que transluz...
E os patos bravos sacodem
Das azas gottas de luz!

Diz o povo que a mãi d’agua
Lá vive nessa cimeira,
N’um palacio d’ouro fino
A’ borda da ribanceira...
E quando o rio se veste
Desse clarão que fascina
E’ que o paço em que ella habita
Todo inteiro se illumina.

 
Mello Moraes Filho.

Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1930 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.