Ecos da minh'alma/Imitação do Snr. Aboim
Si eu fôra da Thracia o Vate sublime,
A lyra afinára p’ra só te cantar;
Si eu fôra o pintor de Italia famoso,
Quizera o teu rosto p’ra mim copiar.
Si eu fôra a fontinha, que corre indolente,
E sobre conchinhas se vai espraiar,
Então me verias, correndo anhelante,
Teus pés delicados risonha beijar.
Si eu fôra um infante gentil, innocente,
Só tuas caricias quizera lograr;
Si somno tranquillo meus olhos cerrasse,
No teu brando seio qu'zera pousar.
Si eu fôra a violêta, que sob as folhinhas
Esconde os encantos que Deus lhe quiz dar,
A ti me mostrára, e sobre teus labios
Meus puros perfumes quizera entornar.
Mas eu não sou fonte, pintor, ou violéta,
Nem vate, que possa teu nome exaltar;
Apenas sou triste mulher, que te adora
O mais que na terra se póde adorar.
19 de Março de 1849.