Sonetos (Antero de Quental, 1880)/Transcendentalismo

TRANSCENDENTALISMO

Já socega, depois de tanta lucta,
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.

Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrario do templo da Illusão,
Só encontrei, com dôr e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...

Não é no vasto mundo — por immenso
Que elle pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...

Na esféra do invisivel, do intangivel,
Sobre desertos, vacuo, soledade,
Vôa e paira o espirito impassivel!