CORÔA-SE A OBRA
Manoel Quentino estava ainda em casa, na manhã do dia seguinte, quando Antonia lhe veio annunciar que a «inglezinha» chegára em uma carruagem e perguntava por elle.
Cecilia e Manoel Quentino correram ao encontro de Jenny.
—Estranham-me a madrugada? Que querem? Não pude dormir toda a noite com a lembrança d'esta visita. Desejava encontrar ainda em casa o snr. Manoel Quentino e como sei dos seus habitos matinaes...
—Ainda tenho meia hora—disse o guarda-livros, consultando o relogio.
—O fim da minha visita é simplesmente entregar-lhe em mão propria uma mensagem de meu pae. Quer ver?
E passou para as mãos do velho a carta, que o leitor conhece já.
Emquanto Manoel Quentino se dispunha a lel-a, Jenny dizia a Cecilia:
—Então como vae esse coração?
—O coração?
—Sim; eu não quero que elle se deixe curar senão por mim. Entendes?
—E acha-o doente?—perguntou Cecilia.
—E acha-o são?—perguntou Jenny, imitando-a.
Cecilia ia a responder, mas suspendeu-se, olhando para o pae.
—Jesus! Que tem meu pae? Olhe!
Manoel Quentino, que acabára de ler a carta de Mr. Richard, estava efectivamente perturbado; fizera-se pallido, e tremia olhando para o escripto, que conservava na mão.
Jenny sorriu.
Cecilia correu para o pae.
—Que é isso? que é o que tem?
Manoel Quentino mostrou-lhe em silencio a carta do inglez.
Cecilia leu-a em um relance de olhos. No fim, banhada de lagrimas, abraçou o pae com transporte.
—Oh que felicidade, meu pae!
O velho parecia hesitar ainda entre a alegria da nova e não sei que amargo pensamento, que teimava em enlutal-a.
—É de certo á influencia d'este anjo—disse Cecilia, designando Jenny—que devemos esta ventura.
O guarda-livros olhou tambem para Jenny, e, com certa perturbação de voz mal disfarçada, perguntou-lhe:
—Miss Jenny, a que serviços devo eu uma tão generosa recompensa?
—Serão poucos os de dezoito annos de fidelidade, Manoel Quentino? Vamos—continuou sorrindo—querem ver que nos sáe um desconfiado? Asseguro-lhe eu, Jenny—continuou com voz firme e grave, porque julgou divisar um raio de desconfiança no olhar de Manoel Quentino—-asseguro-lhe eu, que vi escrever essa carta e que beijei, reconhecida, a mão que a escreveu, asseguro-lhe que póde e que deve aceitar a mercê—se mercê se póde chamar—com a certeza de que a obteve por nobres e reaes serviços.
Estas palavras desarmaram Manoel Quentino. Todas as sombras suscitadas pela leitura se desfizeram.
Havia-lhe de facto occorrido, que lhe queriam compensar d'aquella maneira as tenções, menos leaes, de Carlos para com a filha, e, com esta ideia, o orgulho e o despeito, mal sopeados ainda, revoltaram-se-lhe no coração outra vez.
Mas o conceito, em que tinha Jenny, não lhe deixava supportar estes escrupulos, desde que por ella os via condemnados.
Agora porém era Cecilia a que ficava pensativa.
Passada a primeira expansão de alegria, que a felicidade do pae lhe despertára, acudiu a reflexão a fazel-a meditar sobre as tenções de Jenny.
Esta, que observava a amiga, chamou-a de parte.
—Que ares graves são esses, Cecilia?
—Jenny, deixa-me fazer-lhe uma pergunta?
—Não; se for feita de maneira tão ceremoniosa. Vê que não é assim que eu te trato.
—Mas...
—É condição para que te escute. Falla.
—Diga-me...
A um gesto de Jenny, corrigiu, sorrindo:
—Dizes-me toda a significação d'isto?
—De quê?
—D'esta generosa acção, que eu sinto vir da... tua inspiração?
—Então não te basta a explicação que dei? Tão impossivel te parece já a gratidão, que...
—Não, mas as circumstancias, que occorreram... o que se passou...
—Que tem tudo isso?
—Jenny, perdôa-me; mas a minha consciencia obriga-me a pôr de parte todas as reservas e a fallar-te com franqueza...
—E inda agora o fazes?
—Responde-me... Quaes são as tuas tenções?
—Que tenções?
—As tuas tenções... a meu respeito?
—Ah!... As melhores tenções d'este mundo... Fazer-te feliz.
—Mas repara, Jenny, que eu não o posso nunca ser, á custa de sacrificios alheios.
—E quem é que se vae sacrificar?
—Não sei, mas... acudiu-me um pensamento... louco por certo... mas inquieta-me... A tua generosidade é capaz de tudo...
—Vamos lá a ver esse pensamento louco, que te occorreu.
—N'aquella manhã, no dia dos teus annos, quando me appareceste, como o anjo de misericordia, em um momento de afflicção... lembras-te?
—Vamos adiante... O anjo de misericordia é que veio de mais ahi...
—N'esse momento, ouvi-te dizer algumas palavras, que tremi de comprehender, depois quando disseste a... teu irmão que eu tinha direitos a exigir d'elle a affeição que...
—E não tinhas?
—Ouve-me, Jenny. D'aquella vez a tua angelica presença bastou para me salvar; mas se não bastasse, quando eu tivesse sido surprendida, como o acaso me arriscou a ser, alli, só, n'aquelle logar, e ficasse perdida na opinião de todos, coberta de vergonha e de despreso, ainda assim preferiria retirar-me só com a minha consciencia, que me não accusava, a usar dos direitos a essa reparação, que dizias. Exigir affeições! Repara bem, Jenny:—Exigir!—E podem lá exigir-se affeicões? Receber as apparencias d'ellas, em vez da realidade! E a quem dá isso venturas?
—Tens razão, Cecilia. Vê; eu também sou do teu pensar, e comtudo teimo em fazer-te feliz. E sinceramente confesso que isto hoje é um passo dado no caminho, em que entrei e que estou disposta a seguir até o fim.
—Mas...
—Com franqueza, Cecilia. Falta-nos o tempo para rodeios. Acreditas ou não na affeição de Carlos?
—Não.
—Que não tão desenganado!—tornou Jenny, sorrindo—Ha de custar-me a perdoar-t'o. Não sei se sabes que tomei sobre mim o justificar meu irmão. Já tenho alcançado muitas victorias. Meu pae confessou-se já hontem injusto para com elle. A tua criada Antonia está meia abalada tambem.
—Antonia?!
—É verdade. Eu suspeitei que meu irmão tinha n'ella um inimigo, e parece-me ha ver acertado. E senão dize-me: não foi Antonia quem te contou a historia de certa visita, que Carlos recebeu?
Cecilia desviou os olhos, ao ouvir a referencia ao delicto, que com tão amargas censuras lhe fora de facto contado pela criada.
—Bem vejo que me não enganei—continuou Jenny.—Pois até Antonia se dará por vencida a final. Emquanto á tal visita... dir-te-hei de passagem que tudo está satisfactoriamente explicado.
—Como?—perguntou Cecilia com vivacidade.
—É segredo que meu irmão te poderá revelar, quando... entre ti e elle não devam existir segredos.
—Tarde viria então, para me aproveitar, o esclarecimento.
—Até lá contenta-te com a minha palavra; ou tambem duvídas d'ella?
A volta de Manoel Quentino á sala interrompeu o dialogo.
Cecilia ficou no fim d'elle com mais confiança no futuro, e mais frequentes lhe assomaram os risos aos labios no resto da manhã.
Espalhou-se rapidamente na Praça, durante aquella manhã, a nova da promoção de Manoel Quentino.
Choveram-lhe parabens de todos os lados, cresceu na opinião publica a reputação do guarda-livros.
Conceituando altamente a classe commercial, não podia Manoel Quentino ficar indifferente, ao sentir-se guindado por ella na escada da consideração. Deixava-se possuir de legitimo orgulho, que, não obstante, o não fazia soberbo.
Paulo foi no mesmo dia nomeado guarda-livros, com augmento de ordenado.
O pobre rapaz recebeu com lagrimas a nomeação. Estas lagrimas estavam vingando Mr. Richard.
As manifestações publicas de intimidade entre as duas familias repetiram-se, graças aos artificios de Jenny.
Uma noite, Cecilia, obrigada por ella, appareceu no theatro.
Os amigos de Carlos reconheceram-a, e os boatos do proximo casamento de Mr. Richard com a filha do seu novo socio principiaram, desde então, a transpirar na cidade com certa insistencia.
A phantasia de alguns novelleiros explicava o facto por motivos occultos, dando a entender que os serviços, que devia a casa Whitestone a Manoel Quentino, eram maiores do que os reconhecidos por ella e que as economias do velho guarda-livros tinham valido para atalhar os males causados pelos arrojos do patrão. Desde que se achára assim meio de fazer intervir na explicação o elemento interesse, os animos aceitavam-a de mais boa mente.
Tinha Mr. Richard razão.
Partira porém um vapor para Londres e, após o primeiro, outro e outro, sem que o velho commerciante inglez fizesse lembrar ao filho o cumprimento da sua sentença.
Uma manhã, estava Mr. Richard no gabinete, enthusiasmado na contemplação da chamada «Águia dourada», ou technicamente: Aquila Chrysaetos, raro visitador dos suburbios de Londres, que elle recebera nas vesperas de um seu amigo de Boxhill, onde fora caçada e morta, quando d'este quasi extase de colleccionador o arrancou o rumor da porta do gabinete que se abria; Mr. Richard voltou-se e viu o rosto da filha, que espreitava para dentro.
—Entra, Jenny, entra—disse elle, com a affabilidade com que sempre lhe fallava.
Jenny entrou.
—Que te traz por aqui, tão de madrugada?
—Encarreguei-me de uma apresentação, que peço licença para fazer-lhe.
—De uma apresentação?! De quem?
—De uma pessoa—respondeu Jenny maliciosamente—que lhe quer pedir as suas ordens para Londres. Ha muitos dias já que tinha de partir para lá.
Mr. Whitestone olhou, sorrindo, para a filha, cujas palavras, com o seu sahor epigrammatico, o deliciavam.
—Que entre, que entre o teu recommendado.
Jenny abriu a porta e introduziu Carlos na sala.
Apesar da timidez, que sentia sempre na presença do pae, Carlos recebia agora coragem da consciencia de ter ganho de antemão a causa, que vinha por formalidade advogar alli.
—Meu pae—disse elle, adiantando-se para Mr. Whitestone—não ha muitos dias, que pela sua bôca ouvi qualificada como infamia uma acção minha; venho pedir-lhe agora que me deixe usar do unico meio, que tenho, para evitar que a arguição seja, até certo ponto, merecida.
—Qual é?—perguntou concisamente Mr. Richard.
—Procurar Manoel Quentino e pedir-lhe para offerecer o meu nome, honrado por meu pae com uma vida inteira de probidade, a essa menina, que as minhas imprudencias, e nunca as minhas intenções, iam sacrificando. Salvou-a uma vez a generosidade de minha irmã; outra, a sua, senhor. Deixe-me pois seguir o exemplo tão nobre que me apontaram e com elle o que, ao mesmo tempo, me aconselha o coração.
—E já pensaste bem, Carlos;—disse Mr. Richard, que tinha já perdido toda a sua rispidez—já pensaste bem no que vaes fazer? Não temes que venhas ainda a arrepender-te d'esse passo pouco reflectido? Não receias tornar-te o instrumento da infelicidade d'essa menina? Estás preparado para as obrigações, que, como chefe de familia, vaes chamar sobre ti?
—Eu sei que o passado poucas garantias me póde conceder; mais tenho fé em que o futuro me justificará...
—Fé?—disse Mr. Richard, rindo—É o unico fiador que tens por ti?
Jenny pousou a mão no hombro do pae, dizendo com suavidade:
—E eu.
Mr. Richard voltou-se.
—Tu? Tu afianças Carlos?
—Afianço.
—É arrojo!
—Não é a primeira vez. E o pae sabe qual de nós tem tido razão de se arrepender. Se eu, da minha confiança; se o pae, das suas suspeitas.
—Á falta de melhor, aceito a garantia.
E voltando-se para o filho:
—Parta então, Carlos; e lembre-se de que, depois do passo que vae dar, é... deve ser outro homem.
E Mr. Richard Whitestone estendeu a mão para o filho, que a beijou, antes de partir.
—Não sei se fizeste bem, Jenny—dizia o pae, vendo-o saír do quarto.
—Consultei a memoria de minha mãe, tendo os olhos no retrato d'ella. Tenho fé nas resoluções que me veem assim.
Mr. Richard olhou algum tempo para a filha com amor, e depois, apertando-a ao peito, disse:
—Deus te ouça!... E ha de ouvir, que bem lh'o mereces.
—E nós, senhor, ficamos aqui?—perguntou Jenny.
—Pois que mais queres tu ainda?
—É natural que seja Charles o primeiro a tratar este negocio em casa de Manoel Quentino; mas será delicado que seja o unico?
Mr. Richard tocou a campainha.
—Que apromptem o carro para já—disse ao criado que acudiu ao signal.
—E agora que mais queres?
—Agradecer-lhe.
E depois de abraçar o pae, saiu a correr da sala.
Esta scena teve em casa de Manoel Quentino os seguintes resultados:
Estava o pae de Cecilia preparando-se para sair, quando viu entrar Antonia no quarto com inquietação e sobresalto.
—Que é, Antonia? Que temos nós?—disse Manoel Quentino, surprendido com o aspecto da criada.
—Está alli alguem a procural-o, snr. Manoel Quentino.
—Ainda algum importuno a dar-me parabens. Emquanto eu fui guarda-livros, ninguem me procurava... agora...
E preparou-se para ir ver quem era.
Cecilia, ao ouvir a criada, córada de maneira particular e sob não sei que pretexto, recolheu-se ao quarto.
É que se lembrou, n'aquelle momento, de um bilhete, que na vespera recebera de Jenny, com estas sós palavras:
«Desejo-te e agouro-te muito risonhas madrugadas.»
Assignada—«Tua irmã, Jenny.»
Logo que Cecilia saiu, Antonia chegou-se ao pé de Manoel Quentino e disse-lhe em ar de mysterio:
—É elle outra vez!
—Elle quem?
—O filho do inglez.
—Carlos?!
Foi com alvoroço que Manoel Quentino desceu as escadas e chegou á presença do irmão de Jenny.
Carlos não estava menos agitado. Nos seus gestos e palavras havia uma gravidade, que Manoel Quenlino lhe estranhou.
Não se sentiam á vontade um na presença do outro, o que não é para admirar depois das scenas occorridas entre ambos.
Carlos rompeu primeiro o silencio.
—Manoel Quentino, eu venho aqui para um fim muito serio e de maxima importancia para nós ambos.
Depois de curto intervallo de pausa, acrescentou:
—Venho aqui pedir-lhe a mão de sua filha.
Manoel Quentino deu um salto na cadeira, em que estava sentado.
—Pedir a...?
—A mão de Cecilia—repetiu Carlos, com firmeza.
Uma nuvem toldou por momentos o espirito de Manoel Quentino. As suspeitas, mal acalmadas, agitaram-se de novo áquellas palavras.
Carlos, notando-o, acrescentou:
—Não lhe occulto agora que ha muito sinto por sua filha uma affeicão, que em vão procurei combater. Curvei a cabeça ante as suas accusações, Manoel Quentino, não porque me exprobrasse a consciencia alguma tenção infame, mas porque pelas minhas imprudencias podia de facto ter arriscado a boa fama da pessoa, que eu quereria defender por todo o preço, á custa de todos os sacrificios, e tinha remorsos d'isso. Não é reparação, que venho aqui oferecer; Cecilia não carece d'ella; venho pedir-lhe a minha felicidade.
Manoel Quentino permanecia como estupefacto.
—De meu pae tenho já o consentimento; tenho tambem a approvacão de Jenny; falta-me apenas...
—E Cecilia?...
—Interrogue-a.
Manoel Quentino, quasi sem saber o que fazia, dirigiu-se á porta para chamar a filha. Esta não estava longe, como é de prever.
Ao entrar na sala, o rosto tinha-lhe dito mais, do que se podia esperar das palavras.
Manoel Quentino não era para mais hesitações e reservas. Atirou-se ao pescoço de Carlos; abraçou-o, beijou-o, chamando-lhe seu querido filho.
—Cecilia—dizia Carlos d'ahi a pouco, aproximando-se d'ella—se, para avaliar os seus sentimentos, esperasse que m'os revelasse, duvidaria ainda, sabe?
—Mas não duvída?
—Não, porque... os adivinho; julgo eu que os adivinho.
—E que mais quer? Infelizes dos que não sabem adivinhar assim. Esses... não amam devéras. Não lhe parece?
—E adivinha tambem?
—Espero que sim.
—Mas ainda ha tão pouco tempo que duvidava!
—Ou queria obrigar-me a duvidar.
—E não o conseguiu?
—Bem vê que creio, antes de ouvir a justificação.
—Prometto-lhe que não abusarei d'essa generosa confiança—respondeu Carlos, beijando-lhe a mão, que ella lhe estendia.
Ora succedeu que a snr.ª Antonia surprendesse esta scena. Rica de tal descoberta, correu a dar parte d'ella ao amo, que cantarolava na sala contigua.
Mas qual não foi o seu espanto, ao ver Manoel Quentino receber ás risadas a communicacão do delicto!
Um raio de luz atravessou o entendimento d'aquella prudente senhora.
Tinha ella bastante tino politico para deixar de imitar os deputados que, aos primeiros indicios de mudança ministerial, teem a cautela de se passarem, com armas e bagagem, para a opposicão, com o fim de no dia seguinte amanhecerem do lado do poder.
Teve cêdo a snr.ª Antonia occasião de manifestar este tacto politico. Ouviu-se tocar a campainha do portal, e Antonia, que veio abrir a cancella, achou-se na presença do snr. José Fortunato, o qual a vinha prevenir de que vira passar Carlos na rua.
—Olhem o milagre! Se elle está cá em cima!—disse Antonia, encolhendo os hombros.
—Lá em cima!—exclamou o outro.
—Temos grande novidade. A cousa agora é a valer.
—O quê? o que é a valer, snr.ª Antonia, o que é a valer?
—Desconfio que ha casamento tratado.
O snr. José Fortunato fez uma careta.
—Que me diz?!
—Sim; então que ha ahi de maior? Talhados são elles um para o outro. Da mesma idade e...
Não pôde continuar; o carro de Mr. Richard parava junto do portal, e o velho inglez saltou lepidamente d'elle e ajudou Jenny a saír.
—Santa Virgem, que ahi vem tudo!—exclamou Antonia, correndo pelas escadas acima a annunciar os recem-chegados.
A curiosidade do snr. José Fortunato venceu o despeito e fel-o entrar tambem para ver.
Viu um singular espectaculo!
Jenny abraçava Cecilia com effusão; Manoel Quentino era gravemente abraçado por Mr. Richard; depois era Carlos, que apresentava Cecilia a Mr. Richard, dizendo:
—Trago-lhe mais uma filha, senhor.
E Mr. Richard, que respondia, abraçando-a:
—Agradecido, Carlos. É um verdadeiro thesouro, que me dás.
Cecilia beijava commovida a mão do inglez. Manoel Quentino, soltando phrases desordenadas, abraçava toda a gente. Antonia dava parabens a todos e de ninguem era attendida.
O snr. José Fortunato viu e voltou as costas ao que vira. Desceu as escadas, despercebido de todos, sacudiu na soleira da porta o pó dos seus sapatos, e, resmoneando palavras inintelligiveis, saiu para não voltar.