Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/Vandalismo

Vandalismo


Meu coração tem cathedraes immensas
Templos de priscas e longinquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a alleluia virginal das crenças.

Na ogiva fulgida e nas columnatas
Vertem lustraes irradiações intensas
Scintillações de lampadas suspensas
E as amethystas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templarios medievaes
Entrei um dia nessas cathedraes
E nesses templos cláros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hástas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus proprios sonhos!

 

Pau d’Arco — 1904