Alguns dias depois os noivos e seus pais preparavam-se para voltar a seu lares, quando um agente policial, ou interesseiro procurador se apresen­tou na casa de Florêncio da Silva, anunciando que se achavam detidos e presos na casa de correção, um pajem, e uma negra crioula que se confes­savam escravos, dando o nome de Florêncio, como o de seu senhor.

Frederico avançou para o agente policial, e tomando a palavra ao sogro, disse:

– Nossos escravos ou não, nós os abandonamos ao seu destino; pois que de nós fugiram, rejeitamo-los.

– Então... como ficam eles?

– Pouco nos importa isso: a liberdade, como prêmio, eles a não merecem; como direito, a sociedade ou o governo, que lhos outorgue. Eles nos fugiram, nós os abandonamos.

O agente policial retirou-se confundido.

Frederico voltou-se para a família estupefata e disse:

– A escravidão é peste; por que não nos havemos de libertar da peste?... Que faríamos dessa mucama e desse pajem?... Matá-los?... Fora um crime hediondo: conservá-los em cativeiro?... Uma vergonha da família em constante martírio, considerando, vendo, e sofrendo diante desses escravos: vendê-los?... Vingança ignóbil que mancharia a mão que recebesse o dinheiro, preço da venda dos criminosos empurrados im­punes...

– Mas esses dois traidores e perversos...

– Árvore da escravidão, deram seus frutos. Quem pede ao charco água pura, saúde à peste, vida ao veneno que mata, moralidade à depra­vação, é louco. Dizeis que com os escravos, e pelo seu trabalho vos enri­queceis: que seja assim; mas em primeiro lugar donde tirais o direito da opressão?... Em face de que Deus vos direis senhores de homens, que são homens como vós, e de que vos intitulais donos, senhores, árbitros abso­lutos?... E depois com esses escravos ao pé de vós, em torno de vós, com esses miseráveis degradados pela condição violentada, engolfados nos ví­cios mais torpes, materializados, corruptos, apodrecidos na escravidão, pestíferos pelo viver no pantanal da peste e tão vis, tão perigosos postos em contacto convosco, com vossas esposas, com vossas filhas, que podereis esperar desses escravos, do seu contacto obrigado, da sua influência fatal?... Oh! Bani a escravidão!... A escravidão é um crime da sociedade escravagista, e a escravidão se vinga desmoralizando, envenenando”, desonrando, empestando, assassinando seus opressores. Oh!... Bani a escra­vidão! Bani a escravidão! Bani a escravidão!