Creanças.


AS primeiras impressões da vida, começada a folhear como a grande album de figuras...

Tem tres annos o filho do meu vizinho. Está no periodo encantado em que se voltam as primeiras paginas do livro da vida, as paginas de côr onde apparecem o boi, o cachorro, o cavallo, os gatos. Adora-os e sempre que pode planta-se á janella á espera de bichos. Bate palmas se avista um, longe, e espera-o attento, labios entreabertos, nesse enlevo das creanças que é metade medo, metade surpresa.

Bois, conhece-os a fundo, visto que móra fronteiro a um armazem onde todos os dias batem carros vindos das fazendas proximas. Mas só os conhece assim, na canga, jungidos ao carro, formando um bloco cheio de pernas, chifres, fueiros e rodas. O boi é para elle esse conjuncto monstruoso, que anda, muge, roda, rechina.

Ora, aconteceu que passou pela rua um boi solto. O menino empertiga-se, franze a testa, abre a bocca e, num pasmo, grita para dentro:

— Mamãe, venha ver um boi sem rodas!...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.