122 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

vitorioso para mim: “Bom, não?” “Freie, freie!” Sussurrei, mais do que gritei; pois eu tinha a sensação de que a velocidade que nós estávamos era muito grande.

“Tranquilo!“ Acalmou Chico. Ele colocou, completamente sossegado, a alavanca de comando para frente e puxou a do freio, uma duas, três vezes, mas não funcionou. Deu o estridente sinal duplo para os guarda-freios, mas estes já tinham começado a puxar os freios. Visto que eles não estavam sendo apoiados pela locomotiva e em dois eram muito fracos para controlar cinco vagões naquela velocidade, então a freada foi quase imperceptível. Finalmente funcionaram também os freios da locomotiva.

“É que a água condensou no cilindro do freio a vapor“, disse Chico, aparentemente tranquilo; mas parecia pálido de medo, pois a rapidez aumentava a cada instante. É coisa sabida que freios puxados de leve esquentam demais, ficando até incandescentes quando as rodas giram muito rápido e então não desempenham sua função. Chico mexeu na alavanca de controle, colocou-a em ponto morto e até levantou um pouco as barras radiais, colocando em marcha a ré. Seu rosto estava desfigurado, o maxilar bem pra frente, o olhar febril dirigido à alavanca. A velocidade crescia mais e mais. Os trilhos que carregávamos faziam barulhos como se tivessem vida. Nós ouvimos o ranger abafado dos freios; nosso fogueiro, com o rosto coberto, dedicou-se ao tênder[1] entre o carvão; eu, no meu desespero, puxei o mísero freio de mão do tênder, tão forte quanto pude, embora soubesse que fosse em vão. As valas passavam zunindo, mal passamos por uma já estávamos na próxima. Lá está a ponte sobre o Rio das Mortes! E voamos sobre ela na forte curva à esquerda. “E se descarrilar-mos agora“, pensei e imagino o pior, “então a terrível carga criará vida! E se o trem parar, ela saltará, os trilhos vão voar pelo ar, vão cair sobre nós, vão nos esmagar!“

Um som oco me fez olhar para cima. Estávamos sobre a ponte do Rio das Mortes, passamos no limite e a segunda ponte, que passa sobre o Rio

 

  1. Vagão do carvão e da água. (NdT)