132 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

minha disposição. Entretanto, eu quebrei a cabeça pensando em como poderia fazer para atrair os caras para fora dos vagões. Em todo caso, peguei uma dúzia de meus guarda-freios, todos mulatos, com os quais se podia buscar o diabo do inferno, para empreender a viagem comigo, deixei o bando ir na frente e investigar uma vez mais se eles não carregavam facas e fui no dia seguinte com os trens regulares. Além do tesoureiro, encontrava-se ainda em meu trem de serviço um polaco que falava muito bem russo e que serviria como intérprete. Eu meditei e refleti sobre como eu poderia começar a tirar os sujeitos dos vagões, mas nada me ocorreu, até que, no café da manhã, pois a viagem durou o dia todo, o tesoureiro me perguntou irônico sobre o encaminhamento que teria para o assunto. E então, de súbito, me veio a solução. Mas eu não disse a ele, e sim fiz tudo secretamente. Em uma das estações, onde nós fizemos uma parada mais longa, chamei o meu bando de mulatos e dei as seguintes instruções:

“Quando nós chegarmos em Porto da União, posicionem-se logo nos vagões! Eu vou pegar os russos, mas somente se eles se distanciarem imediatamente dos vagões. Então vocês jogam para fora eventuais russos junto com a bagagem que ainda deverá estar lá, fechem os vagões, encaixem um ao outro e a locomotiva os levará lentamente sobre a grande ponte do Rio Iguaçu de onde eles serão empurrados para o desvio provisório. Depois ocupem a entrada da ponte e não deixem nenhum russo atravessar! Tudo deve acontecer silenciosamente. Vocês devem meter um porrete curto na perna da calça para que o tenham à mão, mas não devem levar navalhas, com as quais o seu bando tão bem trabalha. Vocês me entenderam? Agora vão calmamente para os seus vagões e não falem com ninguém para que nossa festa não seja estragada”.

A resposta foi um sorriso geral, e calmamente eles se afastaram. Isto era uma tarefa do seu agrado, eu sabia que podia confiar nos rapazes. Mas quando o trem chegou em Porto da União, a plataforma da estação estava quase toda ocupada pelos russos, de forma que somente com algum esforço eu consegui descer. Mas ir adiante não era possível, pois os russos formavam como que uma muralha viva. Eu gritei para eles: