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Maquinistas na velha ferrovia


Se nossos maquinistas do começo da ferrovia precisassem prestar o exame alemão para maquinistas, fracassariam sem exceção. Isso porque uma grande parte não sabia ler nem escrever, mas apesar disso, fazia seu trabalho. A carreira de condutor era, naquele tempo, muito simples: dois a três anos como faxineiro, três a quatro como foguista, e então, se vagasse um lugar, maquinista. Não havia exames, decidia-se simplesmente pela reputação do indivíduo, como ele havia lidado com algum descarrilamento e como eram suas outras atitudes. E não faltariam descarrilamentos para que os candidatos pudessem treinar. Era uma situação tão diária que já nem se fazia um grande alarido por causa disso; somente tem de se pensar que os descarrilamentos não eram tão ruins também pela paciência brasileira, pois a velocidade do trem normalmente chegava apenas a 25 k/h em trens de carga e 36k/h em trens de passageiros. Porém, não se pode esquecer que a ferrovia tinha somente uma bitola de um metro e que curvas de 100 metros eram permitidas em elevações de até 3%. Nossos maquinistas — vejo todos eles diante de mim — eram, na sua maioria, mulatos, raros os de pele negra ou branca; a maioria alegre, mesmo com os duríssimos trabalhos na construção da ferrovia. Na linha sul um deles um dia reclamou que possuía uma jornada ininterrupta de 20 horas e, consequentemente, apenas 4 horas para dormir. O engenheiro substituto, cujo rosto parecia uma máscara de ferro, virou-se para ele e disse: “aqui na construção precisa-se aprender a dormir rápido, quando se tem pouco tempo pra isso!”, e voltou-lhe as costas novamente. O maquinista observou por um instante as costas amplas do interlocutor, e então se afastou lentamente,