— Alguma manifestação ? perguntou Gervásio.

— Sim. Uma tolice. Idéias do Braga, do Lemos e de outros. Avisou-me hoje disso o Negreiros. Foram até ao ministro e não sei mais o quê! Enfim, já disse, o que eu não quero é fazer figura triste. O engraçado é que minha mulher falava em dar um grande baile, e agora, que se apresenta a ocasião, faz cara feia!

Dr. Gervásio acudiu. Achava magnífica a idéia e procuraria auxiliá-la na execução. De si para si pensava que esse pretexto traria Milú ao movimento da sua vida habitual; arrancá-la-ia daquela obstinação de pensamento, daquela apatia física que o atormentava.

Pela primeira vez o viram interessado por uma festa. Francisco Teodoro pediu-lhe que a dirigisse. Desse dia em diante o médico punha e dispunha do palacete, como senhor absoluto. Determinava como as coisas se fizessem. A ceia seria no terraço, ao fundo, sob um toldo de seda, entre bosquetes de avencas e camélias brancas; desenhava ornamentos, encomendava flores, substituía estofos, harmonizava cores, dava estilo e graça ao que só tinha peso e luxo; idealizava a matéria, arrancava uma alma delicada àquelas salas carregadas e mudas.