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ATLANTIDA
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— A verdade é sempre inacreditável. Mas, continue...

— A minha surprêsa foi tanta que fiquei sem movimento. O pobre homem falou. — «Atire, se quiser. Pouco me importa a vida. Matar-me será entretanto um crime inútil. Não vim agredir. Vim pedir. Vim com esta criança. O senhor é homem. Talvez não saiba que esta mulher é a mãe de minha filha, a única pessoa que eu amo, a razão de ainda existir êste coitado que vê a chorar. Seja generoso. Eu amo Etelvina. O senhor por enquanto não pode ter senão capricho. Nunca pensei que ela me abandonasse. Tão honesta! Estou perdido, estou desgraçado. Tenha dó de mim. Dê-ma...» Tremia. Grossas lágrimas afundavam-se-lhe pela bigodeira melancólica. E, entre soluços, a sua voz repetia : «Tenha dó...»

Olhei Etelvina, irrevogável e má como um anjo. Que responder? Responder quando não sabia o que devia fazer, quando o meu coração batia de orgulho, de pena, de nojo, de mêdo, quando a minha razão oscilava! Fiz um esfôrço e senti-me hediondamente ridículo a dizer estas breves palavras: — «Como deve saber, não mando na sr.ª D. Etelvina. Ela fará o que entender. Submeto-me à vontade dela». Meti a chave no trinco. Eusébio erguera a petiza, implorando: «Etelvina, olha a tua filha! Vem comigo. Morro se me abandonas...» Etelvina estava de mármore. Apenas, aberta a porta, murmurou: — «Eu não mudo de proceder, Eusébio. Adeus. Amanhã estarás melhor. Agasalha a pequena. Vamos, Gastão...»