A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Ella saudou, descendo as longas pestanas:

— O cavalheiro póde fumar; o Sanches não fuma, mas eu até aprecio o cheiro.

Gonçalo agradeceu, enjoado com aquella voz redonda e gorda, aquelles horrendos « cavalheiro, o cavalheiro!...» Mas pensava: — «que linda pelle! que bella creatura!...» E Sanches Lucena, inexoravel, estendera o dedo agudo:

— Pois eu conheço muito, não o Sr. D. Duarte Lourençal, não tenho essa subida honra por ora, mas seu irmão, o Sr. D. Philippe. Cavalheiro estimabilissimo, como V. Ex. adecerto sabe... E depois, que talento... Que talento, no cornetim!

— Ah!

— O quê! V. Ex. anão ouviu seu primo, o Sr. D. Philippe Lourençal, tocar cornetim?

E até a bella D. Anna se animou, com um sorriso languido dos beiços cheios, mais vermelhos que cerejas maduras sobre o fresco rebrilho dos dentes pequeninos:

— Oh! tóca ricamente! O Sanches gosta muito de musica; eu tambem... Mas, como V. Ex. acomprehende, qui na aldéa, com a falta de recursos...

Gonçalo, arremessando o phosphoro, exclamára logo, n’um sincero interesse:

— Então, queria que V. Ex. aouvisse um amigo meu, que é verdadeiramente sublime no violão, o Videirinha!...