A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Mas Gonçalo Mendes Ramires, sem parar nos Cunhaes, seguia para a Vendinha, onde decidira jantar, dando um descanço á parelha esfalfada. E logo depois das ultimas casas da cidade subiu as stores, respirou deliciosamente, com o chapeo sobre os joelhos, a luminosa frescura da tarde — mais fresca e de uma claridade mais consoladora que todas as tardes da sua vida... Voltava d’Oliveira vencedor! Furára emfim atravez da fenda, atravez do muro! E sem que a sua honra ou o seu orgulho se esgaçassem nas asperezas estreitas da fenda!... Abençoado Gouveia, esperto Gouveia! E abençoada a esperta conversa, na vespera, pela calçadinha de Villa-Clara!...

Sim, de certo, fôra custoso aquelle mudo momento em que se sentára seccamente, hirtamente, á borda da poltrona, junto da pesada meza administrativa de S. Ex. a. Mas mantivera muita dignidade e muita simplicidade... — «Sou forçado (dissera) a dirigir-me ao Governador Civil, á Auctoridade, por um motivo de ordem publica...» E a primeira avença partira logo do Cavalleiro, que torcia a bigodeira, pallido: — « Sinto profundamente que não seja ao homem, ao velho amigo, que Gonçalo Mendes Ramires se dirija...» Elle ainda se conservára retrahido, resistente, murmurando com uma frieza triste: — «As culpas não são decerto minhas...» E então o Cavalleiro, depois de um silencio em que