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O conselheiro não pôde mais desviar os olhos do vulto venerando do herbanario; n’aquelle velho, que fôra seu companheiro de infancia, parecia-lhe estar vendo agora um severo accusador da sua insensibilidade politica, a personificação de um remorso pungente, a primeira apparição de um espectro, que devia perseguil-o no futuro.

Todos os da mesa se levantaram instinctivamente, e, immoveis, viam approximar-se o velho eleitor, que já suppunham á borda da sepultura.

Aquella assembléa, erguendo-se silenciosa e reverente, á chegada de um pobre velho, trémulo e enfermo, que seguia apoiado ao braço de um pallido mancebo, tinha uma apparencia profundamente solemne.

O morgado das Perdizes, devéras affeiçoado ao herbanario, não teve mão em si, ao vêl-o assim doente e enfraquecido, que lhe não viesse ao encontro, dizendo commovido:

— Ó tio Vicente! pois n’esse estado?!...

O velho fez um gesto energico para afastal-o de si.

— Arreda-te! — disse com severidade — deixa-me, serpente, que mordes a mão do teu bemfeitor! Não me appareças, que não quero ter-te na ideia, quando estiver a expirar!

O morgado ficou transido de espanto e de consternação ao ouvir estas palavras.

— Ó tio Vicente!... — exclamou, ajuntando as mãos — pois eu que lhe fiz?

— Cala-te. Deixa-me passar, quero, como homem d’esta terra, protestar contra a iniquidade que tu e os teus praticam hoje, apedrejando aquelle a quem deveis tudo. Vendei-vos como cães, e ficae-vos com esse remorso: eu não o quero para mim.

E, caminhando para a urna, parou defronte d’el-la, fitou o brazileiro, que não pôde sustentar-lhe o olhar com firmeza, e disse-lhe:

— Ahi tem o voto do herbanario, sr. presidente.