Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/111

"É INVENÇÃO MINHA"
109

— Suponho que você se aproveitou da oportunidade para lhe dar uns pontapés, disse ela.

— Sim, dei-lhe tantos pontapés que êle teve de tirar da cabeça o elmo. E para me arrancar fora do canudo foram necessárias horas e horas de trabalho.

Nesse ponto da conversa o Cavaleiro caiu de novo de ponta cabeça, bem dentro dum buraco. Alice receou que dessa vez se machucasse deveras. Todavia, embora só estivesse vendo os seus pés e pernas, porque o resto do corpo estava enterrado, logo sossegou, vendo que o Cavaleiro continuava na conversa como se nada houvesse acontecido. — Dei-lhe, sim, centenas de pontapés, dizia êle lá do fundo do buraco.

— Como pode você falar tão bem estando com a cabeça para baixo? perguntou Alice enquanto o puxava pelo pé. Por fim conseguiu desenterrá-lo. O Cavaleiro olhou para ela muito surpreendido da pergunta. — Que importa onde a minha cabeça possa estar? disse êle. — Meu cérebro continua a trabalhar da mesma maneira e inventar novas coisas.

— E depois duma pausa: — Sabe que acabo de inventar um novo pudim?

— Bravos! gritou Alice. Dê-me logo a receita.

— Toma-se um bocado de mata-borrão, um bocado de pólvora e um bocado de lacre. Mistura-se tudo e... Chegou a hora de despedir-me de você, menina. Estamos no extremo da floresta. Mas antes de partir quero que ouça uma modinha que compus.

— É comprida? perguntou Alice que andava enjoada de modinhas.