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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

Tudo acontecia de modo tão estranho naquele lugar que Alice não se surpreendeu de ver a Rainha Negra e a Rainha Branca sentadas com ela, lado a lado. Quis perguntar donde tinham vindo, mas achou que talvez fosse impolidez. Entretanto pareceu-lhe que não seria mal indagar se o jogo já havia acabado. E murmurou, olhando timidamente para a Rainha Negra: — Quer ter a bondade de dizer-me se...

Não pôde concluir. A orgulhosa dama a interrompeu com aspereza.

— Só fale quando fôr interrogada, ouviu?

— Mas se tôda a gente seguisse essa regra, respondeu Alice sempre pronta para discutir, não haveria conversação possível, pois que há pessoas, como Vossa Majestade, que nunca interrogam. Se eu realmente fôsse uma Rainha...

— Tolices de menina! replicou a dama interrompendo-a. Depois calou-se por uns instantes, como que refletindo e mudou de assunto. — Que entende você por essa frase — Se eu realmente fosse uma Rainha? — Que direito tem de julgar-se Rainha? Nunca poderá ser Rainha antes de ser aprovada num exame. Trate de fazer êsse exame quanto antes.

— Eu não disse isso, protestou Alice. Disse: Se fôsse uma Rainha. Vossa Majestade ocultou o meu “Se.”

As duas damas entreolharam-se e a Rainha Negra, com um tremelique, disse à Rainha Branca: — Ela alega que disse “Se.”