Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/121

A RAINHA ALICE
119

— Costuma estar lá um hipopótamo? perguntou Alice espantada.

— Sim, sòmente às terças-feiras, respondeu a Rainha. Depois voltou à tempestade. — Oh, foi uma tempestade que ninguém imagina! Parte do teto veio abaixo, deixando o trovão entrar e êle entrou e rolou pela casa inteira, derrubando as mesas e cadeiras e quadros. Eu fiquei tão assustada que até do meu nome esqueci.

Alice refletiu consigo que ela jamais procuraria lembrar-se do seu próprio nome num momento de perigo. De que adiantaria isso? Nada disse, porém, para não afligir a pobre dama, que estava num grande abatimento com a lembrança daqueles horrores.

— Desculpe-a, disse a Rainha Negra dirigindo-se a Alice enquanto tomava as mãos geladas da Rainha Branca. Ela é uma boa criatura, mas não pode evitar de dizer maluquices o tempo todo.

A Rainha Branca olhou para Alice com olhos tímidos, como à espera de que dissesse alguma coisa que a consolasse.

— Não foi bem educada, continuou a Rainha Negra, mas é muito boazinha de gênio. Passe a mão pelos cabelos dela para ver como fica agradada. Faça-lhe uns papelotes. De nada gosta tanto como disso.

Nesse ponto a pobre dama deu um prolongado suspiro e pendeu a cabeça sobre o ombro de Alice. — Estou com sono, murmurou.

— Está cansada a coitadinha! disse a Rainha Negra. Alise-lhe o cabelo, cante-lhe uma cantiga de adormecer nenê, ponha-lhe na cabeça uma carapuça de dormir.