A viuva depois ia para a egreja, e ajoelhava-se em cima da sepultura do marido, e resava, resava; de uma vez puzeram-se á escuta do que ella dizia, e ouviram esta encommendação:
Aqui jazes e hasde jazer;
Padre-Nosso meu, nunca tu hasde ter.
E a agua benta que te eu botar
Heide-t’a mijar.
(Foz do Douro.)
O rei ouvia sempre fallar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se affligia com coisa nenhuma d’este mundo.
— Deixa-te estar, que eu é que te heide metter em trabalhos.
Mandou-o chamar á sua presença, e disse-lhe:
— Vou dar-te uma adivinha, e se dentro em trez dias me não souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas:
Quanto pesa a lua?
Quanta agua tem o mar?
O que é que eu penso?
Frei João Sem Cuidados saiu do palacio bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar áquellas perguntas. O seu moleiro encontrou-o no caminho, e lá estranhou de vêr Frei João Sem Cuidados, de cabeça baixa e macambuzio.
— Olá, senhor Frei João Sem Cuidados, então o que é isso, que o vejo tão triste?
— É que o rei disse-me que me mandava matar, se dentro em trez dias eu lhe não respondesse a estas perguntas: — Quanto pesa a lua? Quanta agua tem o mar? E o que é que elle pensa?