CASTRO ALVES
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É que o poeta em certo periodo da vida collectiva soube representar essa alma, communicar-lhe a propria emoção, dar cópia do sentimento della, no que ha neste mais ardente e mais intimo. Foi o verso o instrumento maravilhoso de que para tal fim se serviu. A sua arte é completa, porque para tanto lhe foi bastante.


Não vamos reparar na frouxidão de alguns versos ou no ás vezes desmaiado matiz das rimas e até em algumas que não o são. O apuro destas cousas veio mais tarde. Tão pouco lhe estranhemos a falta de ordem e connexão em varias estrophes, as extravagancias da hyperbole, o abuso da antithese. Não lhe esmiucemos tambem senões de palavras, ou o que ha nellas destoante da pureza classica. Elle tinha vinte annos ou pouco mais. Julgando-o em sua idade e seu tempo, dentro desta dupla circumstancia, não ha contradictar que, á parte a assombrosa precocidade de Alvares de Azevedo, é elle o mais genial dos nossos cantores. Menos daquelles annos, dezesete apenas contava, e já era o poeta da Mocidade morta e Dalila. Aos dezoito escrevia Pedro Ivo. E essas Vozes d′Africa, e os Jesuitas e o Navio negreiro, por não mencionar tantos outros primores, sorprehendem-nos — paginas excepcionaes de alta inspiração em nossa poesia — como producções de um espirito que mal despertava. Ha ahi a irradiação