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o que mais temia o papa[1]. Guardando silencio por largo espaço e vacillando no meio de encontrados impulsos, Paulo iii despediu, emfim, o embaixador, promettendo-lhe que abandonaria os seus designios, se os cardeaes que estava resolvido a consultar sobre o assumpto entendessem que nesse acto de condescendencia não faltava aos seus deveres de supremo pastor. Sabendo que os membros do sacro collegio com quem o papa consultava então semelhantes materias eram os cardeaes Carpi, Teotino e Parisio, Christovam de Sousa recorreu a todos os meios para os tornar favoraveis, bem como o cardeal Farnese. Ao mesmo tempo escrevia a Santiquatro, que então se achava em Pistoia, pintando-lhe com vivas cores o perigo da situação, perigo commum para elles, cujos interesses, como penitenciario-mór, padeceriam igualmente com o restabelecimento da nunciatura. Pucci diri-

  1. «e o cardeal Santiquatro me disse que nenhũa cousa mais atalhara ao papa que dizer-lhe eu que pois nhuncio hia por caso da Inquisição, que a tirasse e não mandasse nhuncio, e tambem com dizer-lhe que me desse licença falar-lhe em consistorio pruvico cousa que elle mais areçêa»: C. de Christovam de Sousa de 9 de dezembro de 1541, l. cit.