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activo procurador da Inquisição buscava impedir por todos os modos que os sollicitados breves chegassem a expedir-se, tendo para isso de luctar ás vezes até com o cardeal Parisio, que acceitara outr’ora a defesa dos christãos-novos, e que numa situação mais elevada não abandonara os seus antigos clientes[1].

A’quelles meios de excitar a piedade, e de dispor os animos a favor de uma causa quasi perdida, ajunctavam-se outros mais ruidosos. Nos tribunaes, nas estações publicas e nos proprios paços do pontifice appareciam em grupos os christãos novos portugueses que se achavam em Roma e, voz em grita, pediam protecção para seus paes, irmãos, parentes e amigos, que judicialmente eram assassinados em Portugal. Um dia em que Faria acabava de obter do papa a suspensão de um breve que se ía expedir a favor de uma certa Margarida de Oliveira, o filho desta veio lançar-se aos pés de Paulo iii, pedindo justiça contra o agente do rei e da Inquisição, que forcejava por conduzir á fogueira aquela desgraçada. A vehemencia com que se exprimia 0 supplicante, que em tal conjunctura não pa-

  1. Ibid.