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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

A este simples periodo de um manuscripto do seculo XVII foi o snr. Corvo buscar habilmente todos os magnificos episodios a que, no seu romance, a Calcanhares serve de pretexto.

Muita gente, sempre de pé atraz com D. Affonso VI, perguntava, depois de ter lido Um anno na côrte: Mas esta Calcanhares existiu ou não existiu?

Ahi fica dada a resposta.

O sr. Corvo foi até excessivamente meticuloso como romancista historico. Andou procurando nos codices do seculo XVII, escrupulosamente, certas minucias, que então não estavam ainda divulgadas, como hoje, pela publicação das Monstruosidades do tempo e da fortuna.

Assim, por exemplo, o rei, referindo-se no romance do snr. Corvo á rainha D. Maria de Saboya-Nemours, trata-a por Brichota, com sem-ceremonia contraria á etiqueta.

Brichota era synonymo de estrangeira.

Pois bem. Lá diz o author do famoso codice: «Respondeu-lhe el-rei que lhe não desse nada da Brichota, que fosse, e estivesse, e se ella fallasse...» O resto não digo eu ainda que me queimem, mas disse-o el-rei D. Affonso VI.

Este monarcha não tinha papas na lingua, e por isso não estranhou a descompostura, núa e crúa, que lhe pregou o marquez de Cascaes.

Eu possuo um livro precioso como subsidio para a historia do reinado de Affonso VI. Intitula-se Vita di Maria Francesca di Savoia-Nemours, regina di