--Tinha dezenove annos, continuou José Maria, e não imagina o espanto dos meus amigos, quando me declarei prompto a ir a uma tal ceia... Ninguem esperava tal cousa de um rapaz tão cautelloso, que fugia de tudo, dos somnos atrazados, dos somnos excessivos, de andar sozinho a horas mortas, que vivia, por assim dizer, ás apalpadellas. Fui á ceia; era no Jardim Botanico, obra explendida. Comidas, vinhos, luzes, flores, alegria dos rapazes, os olhos das damas, e, por cima de tudo, um appetite de vinte annos. Hade crer que não comi nada? A lembrança de tres indigestões apanhadas quarenta annos antes, na primeira vida, fez-me recuar. Menti dizendo que estava indisposto. Uma das damas veiu sentar-se á minha direita, para curar-me; outra levantou-se tambem, e veiu para a minha esquerda, com o mesmo fim. Você cura de um lado, eu curo do outro, disseram ellas. Eram lepidas, frescas, astuciosas, e tinham fama de devorar o coração e a vida dos rapazes. Confesso-lhe que fiquei com medo e retrahi-me. Ellas fizeram tudo, tudo; mas em vão. Vim de lá de manhã, apaixonado por ambas, sem nenhuma dellas, e caindo de fome. Que lhe parece? concluiu José Maria pondo as mãos nos joelhos, e arqueando os braços para fóra?