era doente o devedor, que lá ia andando na procissão, muito teso, pegando uma das varas do pallio.

— Que tem isso? interrompeu o medico; ninguem lhes diz que está doente dos braços, nem das pernas...

— Do coração? do estomago?

— Nem coração, nem estomago, respondeu o Dr. Jeremias. E continuou, com muita doçura, que se tratava de negocios altamente especulativos, que não podia dizer alli, na rua, nem sabia mesmo se elles chegariam a entendel-o. Se eu tiver de pentear uma cabelleira ou talhar um calção— accrescentou para os não affligir,— é provavel que não alcance as regras dos seus officios tão uteis, tão necessarios ao Estado... Eh! eh! eh!

Rindo assim, amigavelmente cortejou-os e foi andando. Os dois credores ficaram embascados. O cabelleireiro foi o primeiro que fallou, dizendo que a noticia do Dr. Jeremias não era tal que os devesse afrouxar no proposito de cobrar as dividas. Se até os mortos pagam, ou alguem por elles, reflexionou o cabelleireiro, não é muito exigir aos doentes igual obrigação. O alfaiate, invejoso da pilheria, fel-a sua cosendo-lhe este babado:— Pague e cure-se.

Não foi dessa opinião o Matta-sapateiro, que entendeu haver alguma razão secreta nas palavras