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mo pois vemos a uma ave cortar os ares, assim é possivel cortal-os qualquer artificio feito á sua imitação, tendo os mesmos instrumemtos necessarios, como v. g. a nau que foi feita á mesma similhança; pois as velas lhe servem de azas, a prôa de peito, o leme de cauda, e os homens que a governam de vida. Vamos a imitada, e deixemos a imitadora.

Tres coisas pois são necessarias á ave para voar, convém a saber: azas vida e ar, azas para subir; vida para as mover; e ar para as sustentar: de sorte 'que, faltando um d'estes tres requisitos, ficam inuteis os dois; porque azas sem vida não podem ter movimento; vida sem azas não póde ter elevação : ar sem estes individuos não póde ser surcado : porém dando-se estas tres circumstancias de azas, vida e ar, conforme a necessaria proporção, é infallivel o vôo em qualquer artificio, como o estamos vendo na ave.

Entra agora o nosso invento com as mesmas tres circumstancias, em que infallivelmente devemos dar-lhe o vôo por certo. O nosso invento tem azas, tem ar e tem vida. Tem azas porque lh'as formámos á mesma imitação e proporção das da ave; tem ar porque este se acha em toda a parte, e tem vida nas pessoas, que o hão de animar para o movimento. É logo infallivel que não póde ser frustraneo este artificio, suppostos n'elle os tres requisitos necessarios para o vôo: que se a esta fabrica se pódem dar estas tres circumstancias por factiveis, de que não ha duvida, infallivelmente d'ellas se lhe hão de produzir as mesmas operações, que vêmos na ave, como effeito produzido da causa : e não fazemos menção das aves, que costumam andar na terra, porque supposto tenham estas tres circumstancias, ou não vôam, ou têm o vôo violento, como a gallinha, o perú, o pato, a perdiz etc. o que lhes procede de terem as azas defeituosas, em quanto á proporção necessaria ao pêso do corpo.

Argumentar-me-hão agora os especulativos, que estas duas paridades da nau e da ave são falsas em quan-