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BOOKER T. WASHINGTON

tremendo de frio. Era grande, quasi rapaz, quando me servi pela primeira vez em mesa. O bem-estar e o luxo sempre me haviam parecido privilegio dos brancos. E de repente a Europa. O antigo escravo da Virginia ia visitar Londres e Paris. Extraordinario.

Dois pensamentos me affligiam. Ao espalhar-se o rumor da viagem, talvez fossem por ahi pensar que estavamos ficando arrogantes e vaidosos. Muitas vezes ouvi dizer que as pessoas da minha raça, elevando-se um pouco, perdiam a cabeça, enchiam-se de bazofia e macaqueavam os ricos. Receava que dissessem o mesmo de mim. Por outro lado mordiam-me remosos. Tinha deveres em quantidade, e parecia-me quasi uma deserção afastar-me, deixando os outros no serviço. Desde menino havia trabalhado, e era impossivel habituar-me á idéa de passar dois ou tres mezes ocioso.

Minha mulher concordava commigo. Resignou-se por achar que eu devia tomar um repouso necessario, embora inopportuno, pois naquelle momento se discutiam questões consideraveis relativas aos negros. Emfim acceitámos a offerta dos nossos amigos de Boston, que logo quizeram saber o dia da partida. Marcou-se 10 de Maio. O sr. Garrison encarregou-se dos preparativos. Arranjou-nos cartas de recommendação para a França e