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O INFERNO

com os braços estendidos, e a cabeça quasi separada do tronco, outros levam nas proprias mãos o coração que lhes arrancaram do peito que mostram lanhado.

Conforme nos vamos aproximando das primitivas civilisações, e, por consequencia, do primitivo barbarismo, mais o genero humano parece deliciar-se no repasto espectaculoso de seus proprios soffrimentos, e o mundo invisivel é para elle um espelho de augmento das miserias e torturas do mundo visivel.

Cada povo se espelha na imagem que nos deixou de seu inferno, com as suas idêas moraes, leis, necessidades, com seus costumes, temperamento e clima.

Nas serranias do Thibet, onde rapidamente se passa do mais rigoroso frio ao mais suffocante calor, ensinam os lamas que o inferno, situado em determinado logar da Asia umas tantas legoas da superficie da terra, é formado de dezeseis circulos: oito onde se arde, oito onde se gela.

Nas esplanadas da India, onde não ha inverno, e onde as populações, languidas de calor, corruptas pelas liberalidades da terra, apenas tem phantasia para inventar prazeres e supplicios, dizem os brahmanes que certos sitios do Naraka estão cheios de mosquitos, de serpentes venenosas, de escorpiões horriveis, de tigres, de abutres e de todos os flagellos proprios d'aquellas regiões ardentes; e que os outros circulos são o theatro das mais requintadas torturas que ainda póde conceber a malicia d'um rajah arrojado. Ahi os glotões