O Cortiço.
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era ele quem tomava conta de tudo que ella produzia e era também quem punha e dispunha dos seus pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de « Seu João, » como ella dizia. Seu João debitava methodicamente essas pequenas quantias n’um quaderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escripto e em letras cortadas de jornal: « Ativo e passivo de Bertoleza. »

E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espirito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava delle, cegamente, todo e qualquer arbitrio. Por último, se alguém precisava tratar com ella qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procural-a, ia logo direito a João Romão.

Quando deram fé estavam amigados.

Ele propoz-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um portuguez, porque, como toda a cafusa, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instinctivamente o homem numa raça superior á sua.

João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida ao meio parallelamente á rua, sendo a parte da frente destinada á quitanda e a do fundo para um dormitorio que se arranjou com os cacarecos de Bertoleza. Havia, além da