Boa, era um branco, que em razão de seus crimes se tinha refugiado entre eles para subtrair-se às perseguições da justiça; mas nem por sombra passava pelo pensamento de quem quer que fosse que o assassino de Reinaldo fosse o terrível caudilho dos Chavantes, que Itajiba fosse Gonçalo, do qual tinham como certo que já nem ossos existiam.

Maria, a gentil causadora e vítima ao mesmo tempo daquela triste catástrofe, existia ainda, mas sempre mergulhada naquele torpor profundo, naquela paralisia da inteligência que a tinha acometido há vinte anos, quando viu expirar Reinaldo picado a facadas pela mão de Gonçalo depois de porfiosa e desesperada luta. Ela existia, mas ninguém reconheceria mais na fisionomia desfigurada e macilenta da pobre idiota as feições tão delicadas e espirituosas da gentil e travessa Maroca. Órfã e sem abrigo, Maria teria morrido à míngua e ao desamparo, se mestre Mateus, que era seu padrinho, não a tivesse recolhido em casa, onde a tratava com todo o desvelo e caridade. Mestre Mateus e Josefa sua mulher fizeram os esforços que estavam ao seu alcance para restituir o uso da inteligência àquela infeliz criatura; porém cuidados, remédios, passeios, distrações, romarias e promessas devotas, tudo foi baldado, até que por fim perderam toda a esperança de vê-la restabelecida.