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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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ambiente. Estas podiam deflagrar numa tormenta inesperada que afogaria a população em sangue.

E o rosario de insurreições, 1807, 1809, 1813, 1826, 1828, 1830, faria pressupor que elas respondiam a uma organização sistemática, em pós de uma idéa assente, de homens que sabiam onde queriam chegar. Pode afirmar-se hoje, depois que Nina Rodrigues desfez o preconceito que parecía proíbir os assuntos negros á indagação nacional, que o Brasil andou beirando o perigo de vir a ser domínio e conquista da raça preta escravisada. A luta sustentada contra os quilômbolas, e mais tarde, as insurreições baianas dos haussás, nagôs e malês, mostram como andámos perto de fundarmos aqui uma Liberia por antecipação.

Ora, Gama apareceu nesse tempo e viveu a sua primeira infancia debaixo da atmosfera trepidante das investigações e das devassas da polícia.

Aos quatro anos e meio, quasi cinco, já com maturidade suficiente para perceber o mal estar, o desassocego da vida do lar, o alarme natural da progenitora, ele que possuia uma inteligência pronta e vivaz, cae-lhe sobre a cabeça a rebelião de 1835, a maior de todas, a que comoveu e aterrorizou a cidade, a que produziu o maior numero de mortes e deu, em seguida, origem ao mais monstruoso processo de que ha memória nos anais da escravidão brasileira. A revolta era sanguinaria e feroz nos seus intuitos. A repressão portou-se á altura da provocação, em desforra violentíssima.

Calcule-se o efeito desse acontecimento no espírito mal aberto do menino, testemunha dos fatos, e a quem não