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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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Impôs Tonante a paz, então, de novo,
Por que um orador falasse ao povo.
— Silêncio! — disse alguem, se levantando
Silêncio guardam todos, não falando.

Ergue-se da retórica o maestro,
que de ás turbas orar tem manha ou sestro.
O canoro fagote embandeirado,
os corações, á pas acostumados.
vai ás fulgentes armas incitando,
pelas concavidades retumbando.

Da campana arrojando gradações,
os tetos faz tremer d’amplos salões;
ribombos de enargueia, epifonemas,
em frases de escachar — as mais extremas;
metáforas brilhantes, etopéias,
capazes de empolar dez epopeias,
jorraram em torrentes caudalosas
com bulha que as tornava pavorosas.
O povo alucinado erguera um — bravo! —
e o tribuno, rubente mais que um cravo,
a voz fortalecendo com pujança,
derrama em cada tropo tal chibança,
que todos, só de ouvi-lo, transportados,
disparam descargas de «apoiados».
Avante, o Mirabeau vai sem parar,
nem co’a lingua do ceu da boca dar:
os olhos são dois astros reluzentes,
os gestos aterravam de imponentes,
os labios semelhavam duas lavas,
feria a lingua mais do que cem clavas:
as palavras fulgiam como raios,
rachando d’alto a baixo os paraguaios;