queimou as asas de ouro na luz da candeia fumacenta do estudo e da oração.
Seu caráter mesmo modificou-se profundamente, esse menino outrora tão benigno, tão complacente e comunicativo, posto que algum tanto retraído e melancólico, foi-se tornando de mais em mais seco e frio, desconfiado e sorumbático. Andava como um fantasma, de cabeça baixa e movimentos compassados e vagarosos. O olhar frouxo e estatelado tinha perdido essa travessa mobilidade, esse fulgor transparente próprios dos verdes anos.
Fatal e deplorável poderio do fanatismo sobre um espírito novel e exaltado, acessível a todas as alucinações!
Para esquecer Margarida era preciso quebrantar o corpo a ponto de o reduzir quase a cadáver, embrutecer o espírito e mirrar o coração e Eugênio não trepidou diante de tão horrível alternativa. À força de trabalhos e insônias, de orações, jejuns e mortificações continuadas, caiu em tal estado de prostração, de atonia física e moral, que embotando-se-lhe de todo a sensibilidade e quase extinto o lume da inteligência, o rapaz ficou como que reduzido a um autômato.
Naquele descalabro geral de todas as impressões