212
OS MAIAS

secca cahiam-lhe inspiradamente sobre a golla: e em toda a sua pessoa havia alguma cousa de antiquado, de artificial e de lugubre.

Estendeu silenciosamente dous dedos ao Damaso, e abrindo os braços lentos para Craft, disse n’uma voz arrastada, cavernosa, atheatrada:

— ­Então és tu, meu Craft! Quando chegaste tu, rapaz? Dá-me cá esses ossos honrados, honrado inglez!

Nem um olhar dera a Carlos. Ega adiantou-se, apresentou-os:

— ­Não sei se são relações. Carlos da Maia... Thomaz d’Alencar, o nosso poeta...

Era elle! o illustre cantor das Vozes d’Aurora, o estylista de Elvira, o dramaturgo do Segredo do Commendador. Deu dois passos graves para Carlos, esteve-lhe apertando muito tempo a mão em silencio — ­e sensibilisado, mais cavernoso:

— ­V. ex.ª, já que as etiquetas sociaes querem que eu lhe dê excellencia, mal sabe a quem apertou agora a mão...

Carlos, surprehendido, murmurou:

— ­Eu conheço muito de nome...

E o outro com o olho cavo, o labio tremulo:

— ­Ao camarada, ao inseparavel, ao intimo de Pedro da Maia, do meu pobre, do meu valente Pedro!

— ­Então, que diabo, abracem-se! gritou Ega. Abracem-se, com um berro, segundo as regras...

Alencar já tinha Carlos estreitado ao peito, e quando o soltou, retomando-lhe as mãos, sacudindo-lh’as, com uma ternura ruidosa: