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QUINCAS BORBA

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QUINCAS BORBA

Sophia estava só, no quarto de vestir, calçando os sapatos, quando a criada lhe entregou o pacote. Era o terceiro presente do dia; a criada esperou que ella o abrisse para ver também o que era. Sophia ficou deslumbrada, quando abriu a caixa e deu com a rica jóia, — uma bella pedra, no centro de um collar. Esperava alguma cousa bonita; mas, depois dos últimos successos, mal podia crer que elle fosse tão generoso. Batia-lhe o coração. — O portador está ahi? — Já foi. Que cousa rica, minha ama! Sophia fechou a caixa, e acabou de calçar-se. Deteve-se algum tempo, sentada, sosinha, recordando cousas idas, e levantou-se pensando: — Aquelle homem adora-me. Tratou de vestir -se; mas, ao passar por deante do espelho, deixou-se estar alguns instantes. Comprazia-se na contemplação de si mesma, das suas ricas fôrmas, dos braços nus de cima a baixo, dos próprios olhos contempladores. Fazia vinte e nove annos,achava que era a mesma dos vinte e cinco, e não se enganava. Cingido e apertado o collete, deante do espelho, accommodou os seios com amor, e deixou espraiar-se o collo magnífico. Lembrou-se então de ver como lhe ficava o diamante; tirou o collar e pol-o ao pescoço.