O CORVO
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XVIII
E o corvo permanece em perpetua estadia,
Sinistro a repousar, do marmore, á brancura.
Quem o contempla assim pela verdade jura
Que algum sonho feroz no aspecto se annuncia.
E' um demonio a sonhar sonhos que o inferno cria
E que lhe enrijam mais a rija catadura,
Tal o fulgôr do olhar que os olhos lhe allumia
E com que a propria sombra elle sondar procura.
Essa sombra que a luz da lampada suspensa
Faz reflectir no chão, qual atra nuvem densa,
No mesmo chão negreja em linhas sepulchraes:
E desse ambito negro, esse ambito de sombra,
Minha alma que da dor da saudade se assombra,
Nunca mais sahirá! Nunca mais! Nunca mais!