A velha afastou-se e Paulo, deitando-se de novo, a fumar, recapitulou o desastre da véspera: quase todo o dinheiro perdido ao jogo, num só número, o 28. Como sair daquele aperto? A quem recorrer? Não lhe lembrava o nome de um amigo, de um conhecido. Como derradeira e única esperança ocorreu-lhe o do velho Fábio. Não tinha coragem de o procurar. Se lhe escrevesse? Mamede levaria a carta. Com tal idéia voltou-lhe a calma, serenou como se já houvesse recebido a quantia e, assobiando, saltou da cama, sentou-se à mesa e pôs-se a redigir uma carta aflita referindo-se, com grandes queixas, à Violante "única culpada daqueles embaraços em que se viam".

O pedido era de duzentos mil-réis e, acrescentava, mentindo, que: "tendo conseguido um emprego vantajoso, no mês próximo saldaria o débito, ficando eterna a gratidão". Animado, vestiu-se, fechou a carta na gaveta e passou à sala de jantar. Dona Júlia, sentada à mesa, cerzia uns pares de meias e, quando o viu aparecer, disse-lhe lentamente, sem levantar os olhos:

— Olha, Paulo, vai ver esse dinheiro. O homem ficou aborrecido.

— Aborrecido, por quê? Não dei fiador? Que espere!

Foi ao banho e, tomando apenas uma xícara de café, vestiu-se saindo para a estalagem. Mamede recebeu-o sorrindo e, como ele