do lago, surgiu a proa de uma barca que tinha a forma de um cisne, todo enrufado e nadando. E foi então apenas um murmúrio infinitamente doce, errando na umbrosa espessura do arvoredo. Lentamente a barca avançava: – e nela, de pé, vinha uma mulher de beleza maravilhosa. Entre o vestido negro que a cobria, o seu colo e os ombros nus lançavam uma claridade, como a da neve sob o Sol. Por sobre o manto negro, cujas pregas desciam, pesadas e hirtas, enchendo o barco, os seus imensos cabelos caíam em outro manto de ouro fulvo. Nenhuma jóia a enfeitava, uma languidez negra e profunda cerrava quase os seus olhos, nos seus lábios vermelhos errava a tristeza de um sorriso. Lenta e serena, a barca fendia a água sem deixar sulco; e pouco a pouco o canto em redor, no fresco arvoredo, era mais sumido e vago.
Quando a barca tocou a margem de relva verde, o cântico findou, e houve só em redor um êxtase mudo, da verdura, das águas, da luz. D. Gil esperava, sem se mover, deslumbrado. Então a mulher maravilhosa deu um passo lento na relva, depois outro: o seu grande manto arrastava pesadamente: – e, sob a orla do seu vestido, brilhava a brancura dos seus pés nus. Assim, docemente, se acercou de D. Gil, cujo coração batia ansiosamente: – e à medida que ela assim se avizinhava dele, o casto moço percebia que o pesado vestido negro, o pesado