(ao assassino de Lincoln)

Cain! Cain!
Byron
 
Neque fama deum, nec fulmina, nec mini tanti
Murmure, compressit coelum...
Lucrécio

Cavaleiro sinistro, embuçado,
Neste negro cavalo montado,
Onde vais galopando veloz?
Tu não vês como o vento farfalha,
E das nuvens sacode a mortalha
Ululando com lúgubre voz?
 
Cavaleiro, onde vais? Tu não sentes
Teu capote seguro nos dentes
E nas garras do negro tufão,
Nestas horas de horror e segredo
Quando os mangues s’escondem com medo
Tiritando no mar n’amplidão?
 
Quando a serra se embuça em neblinas
E as lufadas sacodem as crinas
Do pinheiro que geme no val,
E no espaço se apagam as lampas,
E uma chama azulada nas campas
Lambe as pedras por noite hibernal,
 
Onde vais? Onde vais temerário
A correr… a voar?... Que fadário
Aos ouvidos te grita — fugi?
Por que fitas o olhar desvairado
No horizonte que foge espantado
Em tuas costas com medo de ti?
 
Ai! debalde galopas a est’hora!
É debalde que sangra na espora
Negro flanco do negro corcel.
E no célere rápido passo
Devorando com as patas o espaço
Saltas montes e vales revel.
 
Não apagas da fronte o ferrete
Onde o crime com frio estilete
Nome estranho bem fundo gravou.
O que buscas? — A noite sem lumes?
P’ra aclarar-te fatais vaga-lumes
Teu cavalo do chão despertou.
 
De bem longe o arvoredo trevoso,
Estirando o pescoço nodoso,
Vem — correndo — na estrada te olhar.
Mas tua fronte maldita encarando,
Foge… foge veloz recuando,
Vai nas brumas a fronte velar.
 
Tu não vês? Qual matilha esfaimada,
Lá dos morros por sobre a quebrada,
Ladra o eco gritando: quem és?
Onde vais, cavaleiro maldito?
Mesmo oculto nos véus do infinito
Tua sombra te morde nos pés.