Mote
Ó divina Onipotência!
Ó divina Majestade!
que sendo Deus na verdade
sois também Pão na aparência.
1Já requintada a fineza
Nesse Pão sacramentado
temos, Senhor, ponderado
vossa inaudita grandeza:
mas o que apura a pureza
da vossa magnificência
é, quererdes, que uma ausência
não padeça, quem deixais,
pois que partindo ficais,
Ó divina Onipotência.
2Permiti por vossa cruz,
por vossa morte, e paixão,
que entrem no meu coração
os raios da vossa luz:
clementíssimo Jesus
sol de imensa claridade,
sem vós a mesma verdade,
com que vos amo, periga;
guiai-me, porque vos siga,
Ó divina Majestade.
3Na verdade esclarecida
do vosso trono celeste
toda a potência terrestre
de comprender-vos duvida:
porém na forma rendida
de um cordeiro a Majestade
aos olhos da humanidade
melhor a potência informa,
sendo cordeiro na forma,
Que sendo Deus na verdade.
4Cá neste trono de neve,
onde humanado vos vejo,
melhor aspira o desejo,
melhor a vista se atreve:
aqui sabe, o que vos deve
(vencendo a maior ciência)
amor, cuja alta potência
adverte nesse distrito,
que sendo Deus infinito,
Sois também Pão na aparência.