À distância de sete anos, que já nos separam, desde que ele desapareceu da vida, vejo Cruz e Sousa como numa era já muito longínqua, com qualquer coisa de legendária, era que quase me parece não ter sido vivida, mas simplesmente sonhada.
Sinto que outra época como essa nunca mais eu poderei conhecer. Ela foi feita de todas as belezas próprias da primeira mocidade, e mais das que nos dá à vida uma amizade extraordinária e fecunda.
Quando Cruz e Sousa morreu eu despedia-me dessa fase da existência. Sua morte fez-me fechá-la com lágrimas, mas no fundo destas havia certa felicidade humana, porque elas eram o produto de saudade pungente, mas de modo algum da amarga e fatal desilusão: a morte nos separou quando mais nos amávamos. Eu, que fiquei, tinha o dever de zelar pela obra deixada, de divulga-la, para que os mais o conhecessem, a ele, pelo menos no que esses belos despojos pudessem falar de sua alma.
Só pouco a pouco, por um modo e outro, pude desempenhar-me desse compromisso, tomado comigo mesmo e implicitamente com o poeta, que me fizera depositário de seus manuscritos, como já tive ocasião de dizer na nota que apuz à edição dos Faróis. Hoje, com a publicação dos Últimos Sonetos, ofereço ao público o seu derradeiro livro. Nesse ponto o destino me quis ser favorável, proporcionando-me o prazer de completar uma tal missão, das mais gratas que se me tem oferecido na vida.
Assim queira o nosso país acolher dignamente essa formosa coleção de versos, dos mais belos que em português já se tenham produzido, — a que se encerra neste pequeno volume. Além de tudo, só desse modo terá uma justa compensação da bondade e gentileza cativantes com que acolheu minha proposta a casa editora dos Srs Aillaud & Cia, de Paris, a quem se deve a presente publicação.
Paris, 30 de março de 1905.