Desde que tomou, aos quatro anos, conhecimento do mundo e da vida, A Madaleninha indagara de Dona Judith:

— Mamãe, onde é que está o papai?

As primeiras respostas da moça foram uma série de sorrisos, de desculpas ingênuas, para enganar a pequenita. Por essas informações, o pai estava de viagem, andando de cidade em cidade, das quais volveria, um dia, carregado de presentes e brinquedos, para as duas. E quando a menina reclamava, pelo menos, um retrato do viajante misterioso, Dona Judith fechava os olhos, numa evocação, como quem pretende reconstituir, um por um, os traços de uma fisionomia esquecida.

Com dez anos, já, a Madaleninha pedia explicações mais claras, à pobre mãe abandonada. E esta avançou um ponto:

— Minha filha, teu pai não voltará mais!

— Nunca mais, mamãe?

— Nunca mais!

— Ele morreu, então?

— Não; não morreu, não.

E apertando a menina de encontro ao peito:

— Tua mãe, filhinha, é divorciada, isto é, uma senhora separada do marido.

A pequena arregalou muito os olhos, e não falou mais no assunto. Aos quatorze anos, voltou a pedir esclarecimentos:

— Mamãezinha, a senhora é separada do papai... Não é?

— Sou, minha filha.

— Diga-me, então uma coisa: quanto tempo a senhora viveu com ele?

Dona Judith baixou os olhos, para poder esconder duas lágrimas. E foi sem poder escondê-las, que desvendou o seu horrível segredo, rebentando em soluços:

— Pouco tempo, minha filha...

E caindo no ombro da menina boquiaberta:

— Uma noite, num trem...