Meu Deus!.. . Meu Deus! calcastes sobre mim, pobre verme da terra, a Vossa mão onipotente, e eu não murmurei.

A peste soprou em minhas veias seu hálito de chamas, que me requeima o sangue e devora as carnes. Meu corpo, o que é senão um crivo de dores, e um inferno onde me abraso em vida?

Tudo sofrerei resignado. Mas, Senhor, poupai-me a esse cruel martírio! Sentir-se a gente vil para aquela a quem vota seu amor!... Parece-me que ainda não tinha sofrido toda a degradação de minha pessoa. Contra a repulsão do mundo revoltava-se minha alma que o despreza como a um ventre de misérias. Contra o nojo que às vezes tenho de mim mesmo, consola-me o pensamento de que meu ser purifica-se nessa chama em que abraso-me.

Mas contra ela, que posso eu senão abater-me no pó, e sumir-se como uma causa hedionda em que não devem pousar jamais os seus meigos olhos?

Que tremendo suplício, mãe! Ter n'alma um afeto grande e imenso; porém nesse afeto uma abjeção maior que ele, uma vergonha que o remorde e o acabrunha!

Para que enviou-me o céu este afeto? Pensava eu, mãe, depois que te partiste, que de mim, deste ente votado ao sofrimento e à desgraça, já não podia sair uma doce efusão, mas somente a paixão cruel e implacável como a lepra que me corrói.