A Batalha de Oliveiros com Ferrabraz

Capa da edição de 1913
Capa da edição de 1913

Eram doze cavalleiros
Homens muito valorosos,
Destimidos, animosos,
Entre todos os guerreiros,
Como ben fosse, Oliveiros
Um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos infiés,
Foram doze leões cruéis
Os doze pares de França.

Todos eram conhecidos
Pelos leões da igreja,
Pois nunca foram á peleja
Que nella fossem vencidos,
Eram por turcos temidos,
Pela igreja estimados
Porque quando estavam armados
Suas espadas luziam,
E os inimigos diziam:
— Esses são endiabrados.

Tinha o duque de Nemé
Que era uma espada medonha,
O grande Guy de Borgonla
Geraldo de Monde Fé.
Carlos Magno tinha fé
Em todos seus cavalleiros,
Pois entre todos guerreiros
De que nos trata a historia,
Vê-se sempre a maior gloria
De Roldão e Oliveiros.

O almirante Balão
Tinha um filho — o Ferrabraz.
Que entre os turcos, era o mais
Que tinha disposição
Mesmo em nobreza de acção
Era o maior que havia
Então em toda Turquia
Oude se ouvia fallar,
Tudo tinha de respeitar
Ferrabraz de Alexandria,

Foi Ferrabraz procurar
Sahiu com uma grande tropa
Vê se achava na Europa
Um rei para pelejar,
Pegou logo exclamar
Com mais precipitação,
Fazendo uma exclamação,
Insultando os cavalleiros,
Fallando contra Oliveiros
Fazendo accinte a Roldão.

Quando Ferrabraz chegou
Nos campos de Mormionda,
Só um trovão quando estronda
Trôa como elle troou,
Em altas vozes gritou
Apoiado em uma lança,
Como uma féra que avança
Precipitada em furor
Dizia oh! imperador
Que dê teus pares de França?

Estás poupando teus guerreiros
Que nem um vem pelejar?
Para que queres guardar
Esses doze, cavalleiros?
Ouço dizer que Oliveiros
Tem tanta disposição,
É propria a occasião,
Se não tens fé em teus guerreiros
Porque não manda Oliveiros?
Para que queres Roldão?

Ninguen ahi respondeu
E Ferrabraz se apeiou,
Numa sombra se assentou
Em vozes altas rompeu,
Carlos Magno se escondeu?
Ou está hoje sem acção?
Os pares onde é que estão?
Não ouço nem um fallar,
Já não possa acreditar
Nas façanhas de Roldão.

Sahirei daqui dizendo:
—Carlos Magno se escondeu
Roldão não me appareceu
Talvez ficasse tremendo...
Estou só, como está se vendo
Elles são doze guerreiros
Como doze cavalleiros,
Não dão batallia a um só
Ou estão tornados em pó
Roldão, Ricardo, Oliveiros?

Eu sosinho nesta campanha
Contra um exercito francez,
E matal-o de uma vez,
Não digo que isto é façanha,
Um exercito não me ganha,
Ainda eu mesmo doente.
Como é que existe gente
Que se atreve a exaltar
E pelo mundo espalhar
Que Carlos Magno é valente ?

Carlos Magno perguntou
Quem tanto o insultava,
Quem tão rebelde fallava.
Ricardo ahi lhe explicou
Lhe disse esse que chegou,
É um grande da Turquia.
Turco de muita energia.
Impera sobre seu throno.
É o legitimo dono
Do reino de Alexandria

Aquelle foi o que entrou
Dentro de Jerusalém
Não respeitando ninguem
Até apostolos matou.
No templo sagrado achou
Balsamo que Deus foi ungido
Cousas que tinham servido
Na paixão do Redemptor,
A corôa do Senhor
Tudo foi subtraido.

Carlos Magno observou
Que nem um se offereceu,
Logo ahi entristeceu
Chamou Roldão e o mandou.
Disse Roldão—eu não vou
Nem eu, nem meus companheiros
Nos combatas derradeiros
Nós exgottamos os valores,
Quem foram merecedores
Foram os velhos cavalleiros.

Nessa ultima batalha
Sanguinolenta e tyrana,
Minha espada durindana
Não mostrou uma só falha,
Daquella bruta canalha
Arrebatei a victoria,
Me ficará de memoria
Aquelles grandes perigos
Os cavalleiros antigos
Foi a quem désses a gloria.

Carlos Magno quando ouviu
A resposta de Roldão
Se encheu de tanta paixão
Que um ferro lhe sacudiu.
Roldão quando olhou que viu
O sangue delle descer,
Não poude mais se conter,
Se armou com tal furor
Que não foi ao imperador
Por Ricardo se interver.

Carlos Magno ordenou
Que os pares o pegasse,
Depois de preso o matasse.
Roldão de novo se armou
Pela espada puxou
E disse em alta linguagem
Com destemida coragem,
Fallou a todos assim:
—Qualquer que tocar em mim
Diga que está de viagenn.

Tudo alli ficou callado
Não fallou um cavalheiro
Roldão era o companheiro
Dentre todos mais amado,
De mais era respeitado
Pela nobreza e acção,
Tinha um leal coração
Para com seus companheiros
E mesmo dos cavalheiros
Era elle o capitão.

Carlos Magno ficou
Certo de que ninguem ia
Disse que mesmo queria
Ver quem o desafiou;
Quando a noticia chegou
Aos ouvidos de Oliveiros
Que soube que os cavalleiros
Não tinham lhe obedecido,
Ficou bastante sentido
Desta acção dos companheiros.

Ordenou ao escudeiro
O cavallo lhe sellar
E mandou logo apromptar
Arreios de cavalleiros...
E gritou—ande ligeiro,
Me ajude logo a armar,
Pode o turco se gabar,
Matei um dos cavalleiros,
Porem não diz Oliveiros
Temeu commigo luctar.

Assim que Guarim sentiu
Seu senhor fallar em guerra,
Pôz os joelhos em terra
Até por Deus lhe pediu,
Porque imaginou e viu
Que elle não estava capaz,
Porque já era demais
O sangue que sahia,
Por isso por Deus pedia
Que não fosse a Ferrabraz.

Guarim, podes descançar,
—Oliveiros respondeu.
Um soldado como eu
Não deixa seu rei chorar,
O turco ha de acreditar
Que mil féras não me comem
Minhas façanhas se somem
Mas emquanto eu não morrer
Ferrabraz ha de dizer
Em França encontrei um homem.

Quando do leito se ergueu
Pôz uma perna estendida,
Logo ahi de uma ferida
Porção de sangue desceu,
O escudeiro tremeu
Assim que o sangue espanou
E elle não se importou
Como que tivesse são,
Fincou a lança no chão
E de um só pullo montou.

E foi ao imperador
Com a maior reverencia;
Disse com obediencia
—Esclarecidos senhores,
Eu não sou merecedor
Que cousa alguma me dê
Por isso, senhor, bem vê
Que valor tem seu captivo
Por 10 annos que te sirvo
Vim pedir-te uma mercê...

Disse-lhe o imperador:
—Pode Oliveiros dizer
Eu juro o satisfazer
Seja que pedido fôr.
Disse-lhe Oliveiros: Senhor!
Não quero cousa de mais,
Eu não serei tão capaz
Para tanto te pedir
Porem, o que quero é ir
Dar batalha a Ferrabraz.

Carlos Magno quiz faltar
Devido ao seu máo estado,
Porem já tinha ordenado
Não podia revogar.
Viu Oliveiros montar
E muito sangue sahir
Rogou-o para não ir...
Disse Oliveiros: irei
Se desfeitiando meu rei
De que me serve existir?

Não posso aqui declarar
O que era de mistér
Como ficou Regner
Vendo Oliveiros montar,
Ficou a se lastimar
Vendo os outros cavalleiros,
Elle com mil desesperos
Prostrado em terra se lança
Perdeu a ultima esperança
—De ver seu filho Oliveiros.

Regner eu não mandei
Disse-lhe o imperador
Seu filho é merecedor
E nada lhe negarei
E elle pediu-me: eu pensei
Que elle quisesse era a paz
Vejo-o doente de mais
Jurei dar-lhe o que pedia
E elle disse que queria
Ir enfrentar Ferrabraz.

-
12


E Oliveiros partiú
Do 111eio daquelle auditoria t)
Carlos Magno ao oratorio
Chorando se dirigiu
Se ajoelhando pediu
A i111age111 de Jesus

e

Pelos má'ttyrios da Cruz
Olhasse seus cavalleiros
E que guiasse Ot.=veiros
Con1 sua divina luz.


1

Dizendo elle foi luctar
Co111 o guerreiro 111ais forte
Noticiando sua 1norte

.. Ja me parece chegar
Se vós o 11ão ajudar
Não tornarei vel-o 111ais


 

Muitas feridas mortaes
S<e vós não o acudir
Elle te1n que succu111bir
Nas arn1as de Ferrnbraz.



Antes clelle terminar
A oração que fazia
Ja utna vóz lhe dizia ,
Que podia descançnt'
Que havia de voltnr



-13


O seu cavalleirb en, paz
E não se afligisse mais
Cresse na Virgem Maria
Que Oliveiras havia
Morto ou preso Ferrabraz.

 
O turco chegou cançadu
Deitou-se p'ra discançar
Viu Oliveiras chegar
Ficou n1es1no alli deitado
Não se mostrou '-agitado
Olhou 'para Oliveiras
Pensou não ser dos guerreiros
Dos 12 pares de França
Perdeu a ultima esperança,
De ver um dos cavalleiros.

Oliveiras o saudou ·
E elle ficou callado <
E üliveiros bem maçado
Da acção do turco ficou
Ferrabraz ne1n o olhou
Tanto caso delle fez
Oliveiros éra f rancez
Guerreiro de educação
Juntou as redias na 111fio
fallou-lhe a sPgunda vez.

Levante-se, cavalle1ro.
Prepare as ar111as se apron1ple


u
(Jegue o cavallo, se mon~e.
·rrale de ser bon1 guerreiro
Ponha seu corpo ligeiro
Veja nãu dê un1a falha.

o

A 1norte entre nós se espalha,
A hora de uni é chegada
Lance mão de sua, espada,
Va1nos entrar en1 batalha.


1

Que111 és tú, tão pequcni110
Que vem n1e desafiar?
Achas que vou n1e occupar


.. Sm dar batalha a menino?
E's louco, tu não tens tino,
Disse o turco com furor.
S~ja por qual forn1a fôr,
IV1:-e diga agora, confesse.
Qual foi o mal que fizeste
Contra leu imperador?

Disse Oliveiras zangado:
Venha pelejar commigo,
Perante ao inin1igo,
E' ser vil pôr-se deitado
Devia ser delicado


 

-15


Lhe refliclio Oliveiros
Na ordcn1 dos cavalleiros

o

Encontra-se a educação,
Por isso não é acção
Nem nobreza dos guerreiros.


o

O turco disse afinal :
Oh! cavalleiro, lhe digo,
Só pode lucta~ co1nmigo

'

Se fôr de sang~e real,
Porque se não fôr igual
Recusa1ei a en1preza
Fallou con, toda franqueza...
Então Oliveiros disse :


 
Pode crêr con10 que visse
Minha origem é de nobreza.
f errabraz lhe esclareceu:
l'eu no1ne has de me dizer. 1
Primeiro cu hei de saber.
Disse Oliveiros: do teu
Disse Ferrabraz : o n1cu
ü direi sen1 111ais porfia,
Pois minha soberania
Não exige cousas taes,
Eu 1nc chamo Frrrabraz,
Sou o rei de Alexandria.

Eu sou Guaritn de Lorcnda.
Oliveiros respondeu
Hoje foi que succedeu
Dar a primeira contenda.
E lhe digo que se renda
Que o lavarei com amor,
Fique sabendo o senhor
Hoje não pode escapar
Eu hoje tenho de o levar
Preso ou 111orto aÓ n1eu sew1or.

O turco disse-lhe assim:
Teu rei é muito malvado ·
Pois pega un1 pobre soldado


, Sem causa quer dar-lhe fim.
'?orque em tu vires a 1nim
E' ser n1uito louco ou bôbo

, .


E como fazer um roubo
.A..~ qu.e1n não possue dinheiro,
E atirar un1 cordeiro
Oentro da jaula de u111 lôbo.


Oliveiras já massado
Disse-lhe: turco és um louco...
Levanta-te. senão con1 pouco
l lei de feril-o deitado.
Que te111po tem se passado!



Nessas tuas discus'.-:;ões
Eu não vin1 ouvir razões
Vi111 ao can1po pelejar,
'fu és franco no fallar
Va111os ver tuas acções.

Ferrabraz sen1 se alterar
Lhe disse: espera Guari111,
Peço que digas a.111in1
O que te vou perguntar.
Então pôz-se a ind~aar
Com a falM 111uito 1;ansa
Con10 quen1 pensa e descança.
Perguntou a Oliveiras:
-Con,o são os cavalleiros
Que forn,am os pares de França?

Oliveiras disse assim:
Roldão tem bôa estatura (
Oliveiras na figura
E' 111esmo que vér a mini,
Guy de Borgonha. Bo[in1,
Ricardo são quasi iguaes,
Pegou n'u1n, é um voraz,
Porem emquanto a Roldão
Em coragem e coração
O inundo não terá mais.

~ 18


Disse f errabraz: entGo
Porque desses cavalleiros
Não veio a mim o Oliveiros
Guy de Borgonha ou Roldão?
Disse ()liveiros: isso não
Oliveiras está doente
Bofin, tambem anda auzente. f
Guy de Borgonha ficou,
Roldão nunca se occupou



Brigar com um turco so111ente.
 

Guarin, tu tens me 111entido
Disse que és novo guerreiro,
E's antigo cavalleiro
Tanto que t4 estás ferido.
Mais Oliv~iros fingindo ·
Disse: esse sangue é d'agora
Eu estou são; por~rn. em.bor~
Ten~a na junta algur}1 callo.
O sangue é de meu cav.allo,
Que é 111uito duro de esporl:li,


Depois de e levantar
Ferrabraz ::,e preparou,
A Oliyeiros rogou
Que o ajudasse a arrnar.
Oliveiros quiz faltar



-19


 

Por achar que er,3 um pPrigo.
Disse Ferrabraz: lhe digo
Confie em minha nobreza,
Eu não uzo da vileza
Para com n1eu inimigo.


Oliveiros se apeiou

f

Ajudou a Ferrabraz,
Con1 cortezias i~uae·


, Elle tambem o tratou .
Quando Ferrabraz1 se arn1ou
Vestiu a .saia de malha
Na qual não tinha uma falha
Feita por outros guerreiros,


 
Montaram-se os cavalleiros
Deram começo a batalha '
Posto sem ordem proseguiram
A lucta em estreitos passos, t
Das grossas lanças os pedaços
De ambos ao longe cahiram,
Ambos logo se serviram
De duas finas espadas
Cortantes, grandes e pesadas
Que era uso dos guerreiro
Das feridas de Oliveiros
Foran1 tres as rnagoadas .

 

-:2()


1 -21


Disse 1.:errabraz: Gua. n1,
Pela crença dos fieis
Confesses logo que111 és,
Nfío sejas fingidc) ass i111. 1
Creio que 111enlisses a 111i111
Tu és u111 do cavalleiros
Daquelles gr;: des guerreiros
Q11e a farna está espalhada.
Pelo pegar da espada
E's Roldão,·011 Olivei10s.

Eu nflo dei só um combale
Co11q11islci lc>dtl esse inundo
('onhc,·o o guerreiro a fundo

501 · professor desta arte
E .)::,i111 quero tratar-te
Cou1 mais apreciação
Pela sagrada paixão
De a cn, são crentes os
Oecl&res logo quc,n és

Ou Roldão uu Oliveiras.

fieis


l'oi~ n11nca achei qucn1 pcgas~e
Tão ben, assi111 11 'u111a lan,·,1
Só nun1 dos pares de rrança
Pode tão destro encontrasse
Juro que tu me negasse

Se11do e,urnnde não descobrt·
Fínje ser soldado pobre
·r eus feitos estão indicando
1'uas acções estão 111ostrando
(~uc és cavalleiro nobre.

Disse a hoste dos guerreiro
Oh l turco tu 111e forçnsse
E agora ,ne obr:g:isse
A Liiscr sou Oliv<-'ir<)s
1~11 sou un, dcls r:iv:rlleiroc;
Ccl11quistci 11111itc>s lu.~:1res
Ouvi tu disafiarcs
Meu rei para µelcjar
P<>r isso venho provai
()11c peso ten1 u111 d11s J)arei;.

Dis"5c <> turco ol1 ! cavalleiro
OL>rr1sse 111al não diser
Para cu te receber
(01110 um fidalgo guerreiro
Pois vejo que fui grosseiro
E 111e confesso sentido
Pois se tivesse sabidl> r
rreria 111e levantad()
E com outro fr::isiadn

l:11 tf'ri:i () recehid<

-

-22


'

Ahi tornaram a partir
En1 ordem de cavalleiros.
Disse o turco a Oliveiras
-~ão posso mais te ferir ;
Vejo teu sangue sahir
Devido estar~s estragado;
Eu tenho o balsamo sagrado
Com que teu Deus foi ungido,
Bebe-o porque estâs \erido,
Bebendo ficas curadr.


Turco eu não hei de acccitar 1
Cousa alguma que me deres,
Salvo se tu quizeres
(Jl(r em Deus e se baptisar
Do contrario é se cançar


,
Porque não acceito nada,
Estou com a vida arri cad3,
Sei lo poder que tem elle
Pore,n só me sirvo delle
Tomando-o pela espada.

Al1i ambos prevenidos
Não escutaram razões,
Pareciam dois leões
Numa jaula enfurecidos.
Dous golpes iguaes medidos


-23


Todos dous descarregara111,

Com a força que botara111

Os
braços ficaram ba,nbo.

E os
cavallos de a,nbos

Em terra se ajoelharam.

o
Oliveiros recebeu l
U11
111 golpe tão desn1arcado
Clue ficou atordo1.do
~E n1uito sangue dt:_:;ceu.
O turco ahi conheceu
Delle as forças abatidas
Com vozes co,npadecidas
Disse Oliveiras teimoso,
Bebe o balsamo milagroso
Que te cura essas feridas.


(


Ferrabraz, eu nada acceito

(

Assi111 nao deves cansar-te,
Confesso de minha parte
Que toda offerta regeito.

Porque eu não me aproveito
D'u,na acção acobardada
Por uma protecção dada
Pois que prefiro morrer
Que do teu balsan,o beber
Sen1 o tomar pela espada.

...

 

-24-
 

Beijou a cruz da es'padn
Proseguio unia oração!
Oh! Vi rgen, da Conceição!
Maria pia e sagrada,
Mãe ele Deus irnn,aculada.
Esposa casta e fiel !
Pelo vinag~ com fel


'
Que Christo bebeu na Cruz.
Rogae por mini a Jr. us,
Nessa batalha cruel.

Partiu ao eu contendor I

Co111 tanta
Que só se
1 ~ria tanto


di posição
tivesse são
valor.

Deu-lhe um golpe ,natado,
Poren, pegou m<1l pegado,
F~riu o turco de u1n lado
f e1tabraz e desviou
Tirando o bal amo o tomotr
Ficou de tudo curado.

Oliveiras entristecet1
Quando viu Ferrabrnz são,
E disse 110 coração
Quem perde a lucta sou eu..
Porem não esmoreceu


-25


Ne111 deu rnostra~ão de falha
Como o ho1nem que trabalha
Disse sen1 poder conter-se,
Falta pouco para ver-se
O fim de nossc1 batalha.

Disse o turco-cavalleiro.
Tu já estás 1nuito ferido
<2.ueirn acceitar p1eu partid<1


 Rendn-se prisioneiro,
A-;si 111 lhe farei htrdciro
l)c) reino de Al exnndria,
 
1: tc111 111ai a garantia
De hoje para amanhã,
Casarás co111 minha iímà,
A flor de toda Turquin.
 

'

l)issc Oliveiros: -Senhor
Eu não prefiro riqueza,
<2uero n1orrer na pobreza
Mas be111 corn rneu salvador ...
Porque foi n1eu creador
E por n1inh 'ahna trabalha,
U111 estante não se en,palha

 
Para valer os fieis,
Turco. cuida e 111 teus papeis,
Vn111os dar fi111 a hatalh~.

-26


Cobriu-e co111 seu éscudo
Beijou a cruz da espada.
E deu-lhe uma cutilada
Que desceu arnéis e tudo.
E dando outra a n1iudo,
A Ferrabraz offendeu
O céo o fawreceu
U1n revez escapoliu
O balsamo delle cahil'
E Oliveiras bebeu.


(

Ferrabraz ad111irado
Por ver tanta ligeireza,
E vêr aquella destreza
E1R quem já estava cançado,
Viu Oliveiras curado
De todas suas ferida.
As forças restituidas
Esta'll:1 tão renitente
Que parecia-lhe um ente
Com quinze ou dezeseis vidas

Depois de ter apanhado
O balsamo que lhe serviu.
Dentro do rio saccudio
O que ainda tinha ficado.
Ferrabrnz ficou 1nassado

1

-27

'

Por Oliveiro. holar
O que não podia achnr
Ainda a peso de ouro,
Do mundo todo thesouro
Não poderia comparar.


Oliveiras respondeu :
Ferral)raz fique sabendo
Que a tudo Deusi está vendo
~Pois o n1undo todQ é seu,
U1n guerreiro co1no eu
Não vae ct\raz de cilada
Com Deus não 111e falta nada
Me basta1n os prodígios seus
Não quero mais do que Deu
Unia lança e un,a espada.


E tornou a investir
Que só un1 leão voraz.
E disse: Senhor Ferrabrnz
E' te1npo de decidir.
Só se ouvia era tinir
As espadas p.elo ar.
Roldão que estava a olhar
De vez en1 quando dizin :


 
Oliveiras eu queria
Estar agora em teu lugar.

-2~


J,í tinh:1 SL' cspcd,1 . tc.lL>
A rn0is, ca pacêtc e tu de>,
Niio tinha rnais uni cscudcl
Que não tivesse quebrado.
As lanças tinham voadc>
Só as viseiras existia111
Elles já m. se cobri11n1
Nas horrivcis cutilaclas.


 
Somente as duas e~"adn .
Se111 d:1111no algu111 resisti:1111
l)liveiros se prep:iro11

E partiu ac> inirnigo...

() turco vio o
perigo

P. pé firrnc o esperou,
L11n golpe nelle deitou
Cn111 tanta disposiçãc>
Strn sl'r propositc> ou Irai<y·:Ju
Ne· ·es golpes lâo ligcir<>s,
O cavallo de Oliveiros
(::ihiu sen1 vida no chão.
·rurco tu estás b~n1 111011tadt)
E 111cu cavallo 111orreu.
r=errabraz lhe respondeu:

M:is eu não fui o culp:icl<>.
Nii<> fic:ir~s desar,n~dn

-29-


Que eu sei a orde1n t1ual é
Não desani111es na fé
Eu fui quen1 n1atei o leu.
Agora 111011tc no 111cu
E vou J)Clejar de pé.

l)isse-lhe Oliveira · : não
Fico tambe1n dcsn1ontado
Tu não fosse o CL1\pado
hssim era ser vilão.
Por certo cu tinha razão
Porque n1al.isse o meu,
Foi caso que :iconteccu
Era-111e feio acceital-o.
Não brigo só a cavallo
Podes descançar o teu.

Ahi Ferrabraz atou
Num arvoredo o cavallo
E disse vou dcscançal-o
Sua occasião chegou,
Para a batalha n1c1rchou
Con1 toda disposiç~o.
Oliveiras forte e são
Esperava-o cara a cara.
Com a espada Alta Clara
Rugindo que: só lt:ào.

-30


Eu agora 111e lembr~i
Da falta que comn,etti,
Mas foi porque me esqueci,
Por isso não relatei.
J)oren, sempre fallarei


J
JJara o leitor se agradar,
Quen1 sabe, ha de se lembrar


'
Na lucta dos cavalleiros.
O cavallo de Oliveirps
Quando quiz de e111bestar.

(

Co1n a grande cutilada
Que Oliveiras recebeu,
Quando o cavallo correu
Não obedecendo a nada,
Sahiu nu1t1a desfilada.
Mas o turco o atalhou
Oliveiras até pensou
Que· fosse algun,a tragedia,
O turco pegou na redia
E o cavallu parou.


Outra parte que dizia
Quando o cavallo do turco,
Foi voai-o num cavuco
Ferrabraz quasi morria.
Oliveiras co1t1 energia


 

'

 

\

-31 -

Chegou nessa 111e':,n1a hora,
Apeiou-se sern demora
Que só sendo dous irrnãos,
Pegou elle pela n1ão
E botou Ferrabraz fóra.


E tornaram a se bater
Os ferozes cavalleiros, 1

\

O
turco com Oliveiras.

Ninguem podia entender,
Nada se ouvia diz~r
Nu jogo ias cutiladas.
As arn,as espedaçadas,
Com esse pesado jogo
De longe via.se o fogo


Que sahia das espadas.

Podes gabar-te Oliveiras
'

Disse o turco admirado:

-Olhe que tenho luctado

Com 1,1ais de n1il cavalleiros,

Eplre todos os guerreiros

Não houve quern 111e ferisse

Nern quern tanto resistisse
Os golpes de 1t1inha espada,

Elia por outra assignada

Nunca houve quen1 a visse.

-32


Disse Oliveiras: entã\'.>
Tua espada não quebrasse
E' porque não encontrasse
Com a espada de Roldão.
Elle com ella na rnão
Nunca encontrou ferro duro.
Nem arnez t:e aço puro
Que seus golpes resistisse,
Nen1 n,etal que não rangisse.
Nem cavalleiro seguro.


I

I

E cobriu-se co 111 uma parte
Do escudo que ficou
Con1 todo orgulho gritou,
V~n1os dar fim ao combate.
A nós não ha quem aparte
Disto já estou convencido,


'

Haja o que Deus fôr servido.
On~:· ha campos e espadas,
As razões são escusadas,
Conversa é tempo perdido.


E partiu detenninado
A Ferrabraz degollar,
Mas não poude aproveitar
O golpe descarregado.
O turco pullou de u111 lado,


'



-33


 

·
U111 golpe nelle rflediu.
Quando Oliveiras sentiu
O braço lhe estren1eceu,
Do golpe que recebeu
f\ sua espada cahiu.

..-:"

Assi111 111es1110 inda pegou~a,
Mas tinha o braco dormente .


 

O
t111co rapida111~11te

·Partiu a ella, ap;111hou-a,
Pegou nella, exanl'inou-a,
Ficou n1u.to adn1irado
E dissl! enthusiasn,ado.
-Oliveiras estás vencido,
Isso ahi está decidido,




!Jorque estás desarn1ado.

'

Porem pega tua espada
Não quero vencer-te assim, {
Mesmo quero ver o firn
Dessa batalha encantada,
Pois que está tão dilatad<t
Que já estou rnal satisfeito.
Respondeu-lhe só-acceilo
Por ,ninhas arn1as ton,adas,
Mas eu acceital-a dada !
1~az-n1e perder o conceito.

...


-34


Alli no chão apanhdu
lJ111 pedaço de urn escudo
Disse deste eu faço tudo
E co1n aquillo se armou

'

O inimigo esperou
Con1 esse ferro que tinha
Disse quanC:o o turco vinha
Con1 Deus não 1ne fc1lta nc1da
l loje cu torno un1a ~spada
Ou a do turco ou a minha.


Oliveiras viu enlão
Que a sella de Fcrrabraz.
Estava munida de n1ais
Çom espadas no arção,
Co1n toda disposição
Que só quem não tem juizo.
Partiu ao turc9 indeciso
Ser temeridade algun1a,
P11xou pelo cabo uma
Que se chan,ava baptiso.


Agora si1n, estou armado,
Disse ellc a Ferrabraz.
Nas arn1as estamos iguaes
N en ll u 111 fica rf1 n1assado.
Cada qual zele seu lado


 

'

..

 

 

 

-35


Que a batalha vai findar.
E' tempo de aproveilar
A força, a coragem, o jogo,
A batall1a é ferro e fogo
Seja feliz quem ganhar.


Haja tempo, o ferro trôa '
Co111 golpes tão deste111idos,
Das espadas os l,;,nidos


 
Só um trovão qué!ndo sóa
Que o estampido rebóa
Por vãos '\tlc serra e quebradas,
 
Como bon,bas disparadas
Raios de fogo subiam.
Grossas faiscas sabiam
Daquellas duas espadas.
Ferrabraz a resistir
Estava com tanta paixão,
Oliveiras só leão
Quando algue1n quer o ferir,
Disse-va1nos decidir
Esta batalha comprida.
A causa está conheci.da,
Um de nós hoje aqui erra,
E nesse campo de guerra
Um ha de deixar a vida.

\


-37


-36


OliveiíOS ahi se ergÍ'teu
Marcou-lhe a cabeça ao 111eio
Que foi o golpe ,nais leio
Que uni cavallciro já deu.
Fcrrabraz cstren1eccu
E quasi perde o sentido,
Ficando 11
111tfllo abatido.
Já con1 os golpes pri,neiros
Disse con,sigo Oliveiras:
-Esse está quasi vencido.


E tornou a repetir 1
Outro golpe des111arcado,
O turco 11111ito cançado
Quasi o golpe o íaz cahir,
Não podendo re istir
O golpe não respondeu,


'

Oliveiras conheceu
A ( tlta de ligeireza,
Mas viu que aquella fraqueza
Não era defeito seu.


Disse Olivciros co,n igo,
Meu Deus-se vós concedesse
Que esse turco conhecesse
Que é feliz viver co1nligo.


 Livrari:.1-0 do perigo
'


 


'

 


 

 

De su'nlinn se perder,
O céo linha de colher
lJ111a alrna q11asi perdida
(Juc depois de arrependida
JJodi:i se converter.

í.: vús oh ! vi rgc111 Maria ·
Mãe cios triste peccadores
Concedei vossos f:ivores
'Nl'st.1s horns de ;1,~011ia
Pnr aq11ellc grande dia X
Dn paixõc~ê cio l~cclc111plor
Por aquclla horrivcl dor
De teu an1r1do Jesus
Pelos 111arlyric)s da cruz.
Pelo frit) J1l'ln cnlor.

'

·rocni este coração ..
Parn tornares fiel (
Conhcça u111 Deus de l5rael
Co1110 n11tor dn criação
Que nãc) perca n salvação
(Jue :lC) vosso filho custou
JJois seu sangue tlerrnn1ou
Sobre 11111 n1adeir<> pregado
1;n2ci quc esse clcsgraç;do
Seja <ie vt'1s t:<) 1110 cu <;ou.

Vós sois a gloria da terra
Do perdido a esperança
Sois vós a unica herança
Do perigrino que erra
És o triumpho da guerra
O balsamo que cura a dor
Alivio de su redor
Com quem tudo se aconselha
Quem apascenta a e elha
Perdida de seu pastar.

Hoje a miseria me cobre
Sou como o Soldado pobre
Que não tenho a favor nada
Sou morto por uma espada
Que me parece a mais nobre.
Já de Ferrabraz a vida
Se divulgava num sopro,
Cada parte de seu corpo
Tinha uma mortal ferida.
A força muito abatida
Elle de tudo mudado
Pallido e ensanguentado
Oliveiros viu com calma
Que o turco só tinha a alma,
O corpo estava acabado.
Isso Oliveiros dizia
Luctando com Ferrabraz
Viu que já éra de mais
O sangue que lhe sahia
Com muito amor lhe pedia
Ferrabraz estás tão ferido
És um homem destimido
Bus a a Deus elle te acode
Deus é muito bom e póde
Te fazer seu protegido

Jesus, Filho do Eterno,
Exemplo da Redempção,
Livrai a este pagão
Do abysmo do inferno,
Dai-lhe um desejo moderno,
Um intuito que o avise
Nessa miseravel crise,
Dai-lhe isso como prenda,
Que de tudo se arrependa
Creia em vós e se baptise,

Oliveiros os rogos teus
Me enchem de sympathia
Mais o rei de Alexandria
Não á de adorar teu Deus
Não rogo mais nem os meus

Já estava Ferrabraz
Muito rendido ao cansaço,
Já o seu esquerdo braço
Não o podia erguer mais,
Porque não era capaz
De resistir mais uma hora
E Oliveiros por fóra
Conheceu-lhe a gravidade,
Com toda amabilidade
Disse—Ferrabraz, agora.

Quero que fique sabendo
Que existe um Deus que nos cria,
Sua força e energia
E' como aqui tu estás vendo,
Vim aqui quasi morrendo,
Todo chagado e ferido
De um combate que tinha sido
Pela fé de Jesus Christo
Elle conhecendo isto
Valeu e estou garantido.

Se tu chegasse a crer
Na Santissima Trindade
No Poderoso Deus Padre,
Havias de conhecer
Que ao mundo rege um poder
De grande sabedoria,
Que a tudo alimenta e cria,
Fez o ceu, a terra, o mar,
E é mais puro que o ar
Mais claro que o proprio dia.

Esse um dia descerá
Ao mundo das illusões,
E todas nossas acções
Como juiz julgará.
E como te salvará?
Tu sem lei, sem confiança,
Sem ter nelle uma esperança
Vás ao dia de juízo?
Então perde o paraizo
Esta grande e rica herança?

Deixe estes idolos que adora,
Creia na Virgem Maria,
Creia que um Deus nos cria
Julga tudo em uma hora,
Bote estas illusões fóra,
Que o demonio não lhe pise
Peça a Jesus que o avise,
Abrace a religião
Peça das culpas perdão
Creia em Deus e se baptise.

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