(Abril, ao raiar d'alva. Por uma encosta de sementeiras, pastos, olivedos e amendoaes em flor vae um loiro peregrino adolescente, d'olhos ingenuos e extasiados no alvor da estrella da manhã.)
Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de esp'rança,
Ides de caminho para algum logar?
Vou dar volta ao mundo...
Sem arnez ou lança?!
Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de esp'rança,
Penas e miserias é o que ireis achar!...
Ó Senhor tão novo, d'olhos inocentes,
Ides com cuidados para um tal andar!...
Vou a prender monstros, combater serpentes...
Ó Senhor tão novo, d'olhos inocentes,
Os dragões ferozes vam-no espostejar!...
Ó Senhor tão novo, d'olhos encantados,
Ides pela fresca para algum pomar?
Vou-me a ler Destinos, descobrir os Fados...
Ó Senhor tão novo, d'olhos encantados,
Feiticeiros negros vam-no enfeitiçar!...
Ó Senhor tão novo, d'olhos tão brilhantes,
Vossos olhos disem que ides p'ra casar...
Vou fazer tesoiros, fabricar diamantes...
O' Senhor tão novo, d'olhos tão brilhantes,
Ha ladrões nos bosques, vam-no assassinar!...
Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de chama,
Vossos olhos ardem como a luz solar!...
Vou descobrir mundos, quero gloria e fama!...
Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de chama,
Sobe o pó mais alto que os trovões do mar!...
Ó creança, d'olhos côr da flor dos linhos,
Por infernos deixas tua paz, teu lar!...
Florirei as pedras pelos maus caminhos!
Levo a luz dos astros e as canções dos ninhos
A sorrir nos beijos e a tremer no olhar!...