(Abril, ao raiar d'alva. Por uma encosta de sementeiras, pastos, olivedos e amendoaes em flor vae um loiro peregrino adolescente, d'olhos ingenuos e extasiados no alvor da estrella da manhã.)

UM LAVRADOR


(de noventa anos, em mangas de camisa a lavrar uma terra)


Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de esp'rança,
Ides de caminho para algum logar?


O PEREGRINO


Vou dar volta ao mundo...

O LAVRADOR


Sem arnez ou lança?!


Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de esp'rança,
Penas e miserias é o que ireis achar!...


UMA VELHINHA


(mais adiante)


Ó Senhor tão novo, d'olhos inocentes,
Ides com cuidados para um tal andar!...


O PEREGRINO


Vou a prender monstros, combater serpentes...


A VELHINHA


Ó Senhor tão novo, d'olhos inocentes,
Os dragões ferozes vam-no espostejar!...

UMA JOVEN CAMPONEZA


(mais adiante)


Ó Senhor tão novo, d'olhos encantados,
Ides pela fresca para algum pomar?


O PEREGRINO


Vou-me a ler Destinos, descobrir os Fados...


A CAMPONEZA


Ó Senhor tão novo, d'olhos encantados,
Feiticeiros negros vam-no enfeitiçar!...


UMA PASTORINHA


(mais adiante)


Ó Senhor tão novo, d'olhos tão brilhantes,
Vossos olhos disem que ides p'ra casar...


O PEREGRINO


Vou fazer tesoiros, fabricar diamantes...

A PASTORINHA


O' Senhor tão novo, d'olhos tão brilhantes,
Ha ladrões nos bosques, vam-no assassinar!...


UM MENDIGO


(mais adiante)


Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de chama,
Vossos olhos ardem como a luz solar!...


O PEREGRINO


Vou descobrir mundos, quero gloria e fama!...


O MENDIGO


Ó Senhor tão novo, d'olhos côr de chama,
Sobe o pó mais alto que os trovões do mar!...

A ESTRELA D'ALVA


Ó creança, d'olhos côr da flor dos linhos,
Por infernos deixas tua paz, teu lar!...


O PEREGRINO


(desaparecendo ao longe)


Florirei as pedras pelos maus caminhos!
Levo a luz dos astros e as canções dos ninhos
A sorrir nos beijos e a tremer no olhar!...