De quantas pessoas a gripe de 1918 inutilizou, nenhuma foi tão lamentável, nem tão infeliz, como a senhorita Guiomar de Almeida Guimarães, filha mais velha do comendador Dionísio Guimarães, do Banco Hispano— Português. Basta dizer que a desgraçadinha ficou cega, e de modo irremediável, no momento, exatamente, em que chegava ao esplendor a sua encantadora formosura dos quinze anos.
Na esperança de um remédio providencial, esperou a desventurada menina durante meses, a volta da luz aos seus olhos admiráveis; e era nessa esperança que estava, há dias, na sala paterna, mergulhada na sua noite sem aurora, quando ouviu, de repente, um rumor suave, de abelha que chupa, chuchurreando, o cálix de uma rosa desabrochada. Ouvido atento, a desgraçadinha compreendeu, logo, com o seu instinto de mulher, o que se tratava: era sua irmã Margarida que estava à janela com o noivo, e que celebrava, com certeza, com ele, a aurora do seu noivado.
Adivinhando a felicidade da irmã e compreendendo a sua desgraça, a mocinha empalideceu, com o corpo frágil tomado, todo ele, por um grande tremor. E foi trêmula, pálida, que chamou, afetuosa:
— Margarida?
A irmã não respondeu.
E a desventurada, a voz flébil, braços estendidos:
— Tenham pena... de uma... pobre... ceguinha!...
E rompeu em soluços.