Era uma figura digna e nobre. Colocada num pedestal, ao lado daquela estátua de bronze que recorda, na praia da Glória, a abertura dos portos nacionais a todos os navios do mundo, não se saberia dizer qual a mais augusta, a mais severa, a mais majestosa. E foi isso, exatamente, o que tentou, nela, o deputado Ramos Videira, ilustre parlamenta oposicionista, cujo verbo descia da tribuna da Câmara como os raios de Jeová do alto do Sinai.
O entendimento para um encontro dos dois foi rodeado do maior sigilo, do maior cuidado, da máxima solenidade. Foi assim como um tratado internacional, para a assinatura do qual reclamam todas as particularidades do protocolo e as habilidades, as mais apuradas, da mais experimentada diplomacia.
Pela combinação, a virtuosa senhora saltaria na praia de Botafogo, atrás do Mourisco, às sete da noite, hora em que o ilustre deputado já estaria à sua espera, com um "landaulet" de cortinas descidas. E o ponteiro estava em cima das sete horas, beliscando, como um bico de pássaro, aquele número, quando aquele maravilhoso vulto feminino, transpirando nobreza e dignidade, se aproximou do carro que a aguardava.
Chapéu na unha, o glorioso homem público precipitou-se ao seu encontro, beijando-lhe a mão seguia como um lírio.
— A senhora está nervosa, agitada... Não está?
— É natural; o senhor não acha? É a primeira vez que cometo, na minha vida, uma loucura destas...
Já no carro, o brilhante orador elogiou, de novo:
— A senhora é de uma pontualidade absoluta; sabe? Eram sete horas, em ponto, quando chegou.
— Ah, eu sou assim! — fez a dama com desvanecimento. — Eu sou assim!
E cruzando a perna, com desembaraço:
— O senhor sabe que eu nunca deixei um homem esperando muito tempo por mim?