No solar do conde Argimiro, um ano depois da sua partida, ainda tudo dava mostras da mágoa e saudade da condessa: as salas estavam forradas de negro; de negro eram os trajos dela; nos pátios interiores dos paços crescera a erva, de modo que se podia ceifar: as reixas e as gelosias das janelas não se haviam tornado a abrir: descantes dos servos e servas, sons de saltérios e harpas tinham deixado de soar.
Mas ao cabo do segundo ano tudo aparecia mudado:
as colgaduras eram de prata e matiz; brancos e vermelhos os trajos da bela condessa; pelas janelas do paço restrugia o ruído da música e dos saraus; e o solar de Argimiro estava por dentro e por fora alindado.
Um antigo vílico do nobre conde fora quem destas mudanças o avisara. Doíam-lhe tantos folgares e contentamentos; doía-lhe a honra de seu senhor, pelo que ele via e pelo que se murmurava.
Eis aqui como se passara o caso: