A Esperança Vol. 2/Adeus (ao meu adorado pai)

Adeus

Ao meu adorado Pai
 

Tanto se sente na morte,,
Quanto na ausencia se sente,
Se a morte é auzencia eterna.
A auzencia é morte apparente.

Julia Castilho.


Adeus dias que breves passasteis,
Semeados de paz e ventura,
E tão cheios de meiga ternura
Que no ceu eu julgava viver!
As caricias d'um pai eu gosava,
Seu amor minha dita fazia o
A tal ponto, que até me esquecia
Longa ausencia que eu tinha a soffrer!..

Mas em breve esse dia fatal,
Repassado de triste afflicção,
Appar ceu, e no meu coração,
Da saudade os espinhos cravou!
E tão fundos que o sangue gotteja,
E em prantos de fél convertido,
Fez trocar o prazer n'um gemido,
A ventura em soffrer transmudou...

E depois esta ausencia tão longa,
N'um escuro sodario envolvida,
Deita a palma de martyr á vida;
Faz os dias em seculos trocar!
Qual phantasma de negro me surge
N'essas noites que lentas se arrastam
E nos dias tão tristes que passam
Sem que eu possa o meu pai abraçar!

Hade o sopro tão triste do outomno
Congelar-se nos montes d'além
Hade vir o inverno tambem
Com seu sceptro de ferro assentar-se
Sobre as ruinas que o outomno deixou
Hade o vento bramir furioso;
Mas depois d'este tempo horroroso,
Tornará a natura a animar-se.

Findará o outomno, o inverno;
Hade a quadra florente lindar,
Sem que o peito me venha animar
Um affago do pai adorado!
Hão-de em flòr os espinhos mudar-se,
Hade tudo contente sorrir
Sem que eu possa no leito sentir,
Meu soffrer n'um sorriso trocado.

Estes bosques tão nús, que mal vestem
Pobres folhas perdidas da côr.
Tornarão a ter viço, e verdor,
Sem que tu, ó meu pai extremoso
Ao lár patrio de novo regresses!...
E eu heide esta ausencia soffrer?
Hade o pranto amargoso correr
Sem que chegue esse tempo ditoso?

Mas no fim de tão longo martyrio
Refulgente reluz uma esp'rança;
Como surge tambem a bonança
Terminado o fragor da procella,
Como as ondas barrentas se acalmam
Apoz longo, fermente agitar,
Tal meu peito se deixa affagar
Pela esp'rança risonha e tão bella.

Ante a luz que essa esp'rança diffunde,
Ante esse astro de mago condão;
Inda ha pranto, martyrio, afflicção;
Inda ha lento viver de amargura...
Mas depois de passada essa nuvem,
Ilade a esp'rança brilhante apparecer;
Já sem veu que lhe possa envolver,
Os seus raios de immensa ventura.

Eia pois, ó meu peito, coragem,
Não te deixes assim succumbir,
Cessa, ó lyra, tambem de carpir
Meu soffrer pela ausencia cauzado...
Cala as dores que o meu peito torturam.
Vê se podes meu pranto occultar,
P'ra podermos melhor offertar
Este adeus ao meu pai adorado.

Veiga — novembro.